Vigília Pascal 2023

08-04-2023

VIGÍLIA PASCAL

Sé do Funchal, 9 de abril de 2023


"Que hei-de fazer com Jesus de Nazaré?": Deixa que Ele te ressuscite!

1. "Que hei-de fazer com Jesus de Nazaré?": a questão de Pilatos tem-nos conduzido ao longo deste Tríduo Pascal, como interrogação que é dirigida a cada um de nós. Diante de Jesus, cada ser humano é convidado a decidir: não apenas a ter uma opinião, mas a assumir uma resposta, de que depende o modo como vive.

Se em Quinta-feira Santa dizíamos: "deixa que Ele te ensine o que é o amor"; e na Sexta-feira Santa: "deixa que Ele te ensine a rezar", hoje, depois de termos escutado a notícia que os anjos deram às duas mulheres, não podemos deixar de responder: "deixa que Ele te ressuscite consigo".

Pode, à primeira vista, parecer estranho: afinal, não estamos mortos! Falamos, sentimos, comemos… Sim, é verdade que, de vez em quando, dizemos que estamos "mortos de trabalho", e outras vezes andamos desanimados "que nem mortos"… Mas estaremos mesmo mortos? Rimos, vivemos, somos mais ou menos felizes!…

Biologicamente, sabemos que, a partir do momento em que existimos, passamos também a morrer — vida e morte vão convivendo no nosso corpo mortal: em qualquer ser vivo, há células que morrem e células que vão ganhando vida. Mas sabemos também como, em cada dia, tantas vezes nos afastamos de Deus, a fonte da vida; e como nos afastamos dos irmãos — aqueles com quem partilhamos o viver; e como tantas vezes, na nossa liberdade, escolhemos atitudes de morte (ou que a ela conduzem). Não se trata, nestes casos, de realidades biológicas mas de opções erradas que tomamos, escolhas más que fazemos, e das quais, depois, eventualmente, nos arrependemos quando somos confrontados com o esplendor da vida de Deus em nós e para nós.

Afinal, a morte marca-nos muito mais que possa parecer à primeira vista! Mesmo a nós, batizados, que trazemos connosco o viver de Jesus ressuscitado, o princípio da vida eterna!

2. A celebração de hoje, fazendo ressoar ao nosso coração o anúncio solene da ressurreição de Jesus, diz-nos, em primeiro lugar, que a morte deixou de ser inevitável, deixou de ser uma fatalidade: Cristo venceu a morte! E isso significa que a morte pode ser derrotada! Derrotada pelo homem verdadeiro que é Jesus, Filho de Deus. Os Padres da Igreja diziam: a morte foi derrotada, quando pensava ter derrotado, na cruz e no sepulcro, o Deus feito Homem!

A celebração de hoje diz-nos ainda que, unidos a Cristo, também nós recebemos o princípio da vida eterna, a vida de Deus. Tendo-se Cristo feito um connosco na morte, também nós fazemos um com Ele, na vida de ressuscitados: "Fomos sepultados com Ele pelo Batismo, na sua morte, para que […] vivamos uma vida nova", dizia-nos S. Paulo. Unidos a Cristo, também nós podemos derrotar a morte, fazendo nossa a vitória de Jesus. Diante de nós, baptizados, abrem-se as fronteiras da vida eterna!

Depois, a celebração que estamos a viver diz-nos que esta vida nova é uma vida radicalmente diferente porque é uma vida no Espírito de Jesus. O catecismo fala dum "corpo espiritual", quer dizer: um corpo habitado e transformado pelo Espírito de Deus.

Este é o itinerário que nos é proposto a nós cristãos, em cada dia: passar da morte (da vida presa e dominada pelas realidades passageiras e caducas) à vida com Cristo (que é a vida no Espírito, quer a dizer: a vida transformada, convertida pelo Ressuscitado — a vida para Deus e para os irmãos).

Mas a celebração de hoje diz-nos também que temos a missão de o anunciar e viver. São realidades grandes e importantes não apenas para nós mas para todos os seres humanos. Não podemos guardá-las só para nós. Todos têm o direito de saber que Jesus ressuscitou. Não podemos viver como velhos, com os critérios do homem velho, paralisados pelo medo ou (até!) pelo nosso pecado. "Ide depressa dizer aos discípulos", foi deste modo que o Anjo do sepulcro enviou as mulheres, cheias de temor diante do que estavam a viver. Ide depressa! E elas não se deixaram prender pelos medos. Ao contrário: "correram a levar a notícia"! Esta mesma urgência, esta missão irrecusável, é-nos também confiada a nós, nesta Páscoa de 2023!

Queridos catecúmenos que ides ser baptizados — quer dizer: mergulhados com Cristo na morte, para com Cristo ressuscitar: olhando para vós, recordamos o que sucedeu connosco. Pedimos para todos esta graça de continuarmos em cada dia este caminho sério de passar da morte à vida, que o mesmo é dizer: a graça de em cada dia vivermos a Páscoa de Jesus!

+ Nuno, Bispo do Funchal