PROGRAMA PASTORAL DIOCESANO 2020-2021

02-09-2020

Programa Pastoral para o ano 2020-2021

A Eucaristia constrói-nos no caminho da fé: "Cristo salva-te"

A meio do Ano Pastoral de 2019-2020 fomos surpreendidos pela pandemia do coronavírus que nos impediu tantas actividades pastorais, de que se destacam as habituais celebrações da Eucaristia, da Quaresma e da Páscoa, e que ainda agora limita a vida das nossas comunidades.

Mas esta situação não nos pode fazer desanimar na vida da fé: é ela que nos oferece a razão última do nosso viver. Pobres de nós se a perdêssemos: perderíamos o horizonte de vida eterna que a fé sempre coloca diante de nós. Ficaríamos, definitivamente, confinados ao quotidiano.

1. Um ano vivido em condições particulares

Precisamos, por isso, de procurar todos os modos legítimos para manter e alimentar em nós a vida eterna que Deus nos deu no momento do nosso baptismo, sempre animados pelo Seu Espírito. Poderemos não ter a possibilidade de realizar todas as actividades propostas, mas isso não poderá nunca significar que baixamos os braços.

Não deixaremos esquecer - e tomaremos como assumidos - os pontos essenciais propostos pelo programa do ano passado: somos baptizados, e por isso, na nossa existência, vivemos a Vida de Deus, a vida eterna, tornando-nos testemunhas e actores do mundo novo iniciado na ressurreição de Jesus.

Como já tínhamos decidido, o próximo ano pastoral de 2020-2021 será dedicado a aprofundar a dimensão eucarística da vida cristã: a vida divina que nos foi entregue no momento do nosso baptismo, como a poderemos alimentar?

Se esta vida divina nos foi oferecida por Deus, alimentá-la não pode ser apenas fruto da nossa vontade e do nosso engenho. Por isso, o próprio Jesus nos diz que a Eucaristia é o "Pão do Céu" (Jo 6,51). A Eucaristia é o Pão do nosso caminho, o Pão que alimenta a peregrinação da nossa existência cristã.

2. Eucaristia, Deus no meio de nós

Jesus de Nazaré não foi um fantasma, uma ideia, um sonho. Foi um homem, real, histórico - foi "o Homem" (Jo 19,5). Nem foi apenas um contador de parábolas, um sábio que ditava máximas de sabedoria, ou (muito menos) um legislador de regras a serem cumpridas. Se assim fosse, ninguém teria abandonado os barcos, as redes, a família, a vida que vivia até esse momento, para O seguir (Mc 1,16-18). Aqueles que se encontravam com Jesus tocavam nele o próprio Deus, e era essa realidade que os fazia deixar tudo para O acompanharem.

A ressurreição do Senhor (quando os discípulos, depois de O terem visto morto e sepultado, O encontraram vivo e com a vida de Deus) e a descida do Espírito Santo deram a compreender quem era esse Jesus: Deus "no meio de nós" como a fé nos faz dizer com frequência; Deus no meio da história; Deus feito Homem; Deus que se encontra para além dos limites do espaço e do tempo, para se manifestar presente no meio do mundo, para estar hoje presente no nosso tempo. Deus nosso contemporâneo.

Esta presença do Senhor ao nosso lado mostra-se, de um modo particular, na Eucaristia. Ao instituir a Eucaristia na Última Ceia (antecipando o acto de salvação que iria realizar nos dias seguintes com a sua morte e ressurreição), Jesus dá aos discípulos de todos os tempos a possibilidade de O encontrar no presente, de O encontrar hoje.

Assim, também nós, cristãos do século XXI, podemos encontrar o Senhor, segui-Lo, escutá-Lo, deixar que Ele nos dê a vida, a Sua Vida. Quando celebramos a Eucaristia, Jesus torna-se, de facto, nosso contemporâneo, o que significa também que, por isso, nada do nosso mundo lhe é indiferente!

Quando comungamos, Jesus transforma a nossa vida. S. Agostinho não hesitava em comparar: ao comermos os alimentos para a vida da carne, transformamo-los no nosso corpo; mas quando comungamos o Senhor, somos transformados nele (cf. Confissões VII,10). E S. Leão Magno afirmava: "A nossa participação no corpo e sangue de Cristo tem o objectivo de nos converter naquele que recebemos" (Sermão 12, De Passione, 3,7). Sermos transformados no Senhor, identificarmo-nos mais com Ele em cada dia que passa: nisso consiste o nosso caminho de cristãos e o caminho que Jesus faz connosco.

3. Eucaristia, alimento de vida cristã

Por isso, devemos reconhecer que a Eucaristia é alimento de vida cristã sem o qual não podemos passar. Experimentámo-lo, de um modo muito concreto, nos meses em que a esmagadora maioria dos cristãos esteve impedida de comungar o Corpo de Cristo por causa do coronavírus. Sem o alimento da Eucaristia, a vida cristã definha e corre mesmo o risco de desaparecer. Ao contrário, com a Eucaristia, unidos ao Senhor em cada Domingo ou mesmo em cada dia, vamos sendo transformados naquele que comungamos - e isso significa caminhar, progredir na vida cristã.

Ao mesmo tempo, percebemos que todos quantos participam desse verdadeiro "Pão do Céu" fazem parte do único Corpo de Cristo, fazem parte do que também nós somos: é a Igreja que é edificada, de tal modo que cuidamos uns dos outros, nos entreajudamos em todas as dimensões da nossa vida humana e cristã, caminhamos e mostramos a todos como o Senhor é bom (Sl 34,9). Somos o Corpo de Cristo!

Por isso, a Eucaristia é um convite à caridade (quer dizer: à permanência no amor de Deus), como mostrou o próprio Jesus quando, na Última Ceia, lavou os pés aos discípulos e lhes deu o mandamento novo do amor (Jo 13,34).

Por outro lado, ao mesmo tempo que aprofundamos o "Pão do Céu" que é alimento da nossa vida cristã, e tendo em conta a crise que a pandemia do coronavírus gerou, não poderemos esquecer todos aqueles que terão dificuldade em encontrar alimento para o corpo. Assim, havemos de dar especial atenção àquela dimensão da caridade que nos leva a cuidar de quem tem fome e necessita de alimento para o corpo e de tantas outras ajudas para a sua própria sobrevivência.

4. Renovar a "cultura eucarística"

A nossa Diocese tem um rico património (material e espiritual) de devoção ao Santíssimo Sacramento, de tal modo que não raras vezes as nossas Ilhas foram chamadas "Ilhas do Santíssimo Sacramento".

No entanto, temos assistido a um decréscimo do lugar da Eucaristia na vida cristã dos madeirenses e da fé na presença real do Senhor na Eucaristia. É pois importante uma renovação da nossa "cultura eucarística" - quer dizer: um revigoramento da devoção eucarística; uma renovação das suas expressões públicas, seja aquelas ligadas ao património, seja todas as que hoje têm ainda lugar nas várias comunidades; uma purificação do modo de celebrar a Eucaristia que a todos una verdadeiramente ao Senhor e aos irmãos.

5. O voto a S. Tiago Menor

Ao longo deste ano iremos ainda celebrar os 500 anos da escolha de S. Tiago Menor como padroeiro da nossa diocese. Foi durante um surto de peste que os habitantes do Funchal, em 11 de Junho de 1521, escolheram aquele Apóstolo para seu padroeiro e entregaram pela primeira vez nas suas mãos a proteção da cidade do Funchal e de toda a nossa Diocese.

Assim, iremos comemorar a efeméride procurando, antes de mais, conhecer melhor a figura (por vezes esquecida) de S. Tiago Menor. Em particular, havemos de procurar ler e meditar a Carta de S. Tiago, escrito do Novo Testamento cuja autoria é, desde sempre, atribuída ao nosso Padroeiro.

Que a Virgem Maria - Ela que, depois de aceitar dar carne ao Corpo de Cristo, se "pôs a caminho" para visitar Santa Isabel, expressando assim a caridade que a vida cristã sempre faz surgir em nós - interceda pela nossa Diocese ao longo deste ano, e nos ajude a renovar a nossa fé eucarística e a expressá-la em obras concretas de amor dos irmãos (Tg 2,18).

Apresentamos algumas iniciativas a serem tomadas ao longo deste ano:

  • Constituir uma equipa diocesana para acompanhamento das actividades do Programa que, no final, apresente um conjunto de sugestões para intensificar a "cultura eucarística" na Diocese.
  • Fazer uma caracterização dos cristãos que frequentam a Eucaristia dominical.
  • Fazer um levantamento das práticas eucarísticas de cada paróquia (cânticos, devoções populares, inscrições, património...)
  • Fazer um levantamento das Confrarias do Santíssimo existentes na Diocese: quantas são, qual a sua natureza jurídica e quais são os seus membros e actividades.
  • Organizar um Congresso diocesano das Confrarias do Santíssimo.
  • Propor a leitura de alguns documentos recentes do magistério sobre a Eucaristia.
  • Promover acções de formação para quantos estejam envolvidos na celebração da Eucaristia: leitores, acólitos, cantores, Ministros Extraordinários da Comunhão, sacristães, voluntários, floristas, fotógrafos...
  • Fazer uma aplicação com os horários das missas e as leituras dominicais em várias línguas que possa estar à porta das paróquias e seja acessível a quantos por ela passam.
  • Rever em arciprestado os horários das missas.
  • Promover um "lausperene diocesano".
  • Promover a oração pessoal diante do Santíssimo Sacramento.
  • Valorizar a dimensão espiritual das festas do Santíssimo Sacramento.
  • Intensificar a distribuição da Eucaristia aos doentes e idosos através dos Ministros Extraordinários da Comunhão.
  • Celebrar com especial devoção a Solenidade do Corpo de Deus.
  • Celebrar condignamente os 500 anos do voto a S. Tiago Menor e da sua escolha como Padroeiro Diocesano.
  • Promover a leitura orante da Carta de S. Tiago.
  • Promover um Seminário de formação sobre S. Tiago Menor.
  • Cuidar e intensificar as instâncias de apoio aos mais necessitados.