Programa Pastoral 2022/2023 e Calendário

01-10-2022

"Escolhe a vida!"

O Espírito Santo faz-nos testemunhas da Vida do Ressuscitado

"Pôs os olhos na humildade da sua serva"

O Espírito Santo é a Vida, a respiração do Ressuscitado. Com efeito, sobretudo nas línguas antigas, a palavra "espírito" tem o significado de "respiro", "sopro". Quer dizer: o "espírito" de alguém é o seu respirar. Podemos, pois, dizer que o Espírito Santo é o "respirar de Deus" 1.

"Eu e o Pai somos um", diz Jesus (Jo 10,30), resumindo deste modo a Sua constante união com o Pai, que constitui o "mistério", o centro da Sua Vida. O "respirar de Jesus" é, assim, o "respirar do Pai": a Sua Vida é a Vida do Pai. Por isso, Jesus é Aquele sobre quem repousa o Espírito Santo 2: Ele é o "Messias" (quer dizer: o "Cristo", o "Ungido"), sempre em constante relação com o Pai.

No dia de Páscoa, Jesus partilhou este "sopro divino", esta Vida, com os seus discípulos: "Soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo" (Jo 20,22). Acolhendo essa vida nova, tudo nos discípulos passou a "respirar Jesus" 3 . Ou, dito com outras palavras: os discípulos - que tinham experimentado a morte ao ver Jesus crucificado e sepultado, deixando-se invadir pelo medo e pelo desânimo, mas que também tinham feito a experiência da vida de Jesus ressuscitado que os acompanhava, que com eles partilhava a refeição, que os ensinava - passaram a ser "uma nova criatura": passaram "da morte à vida" (cf. Jo 5,24).

Foi esta realidade nova que os fez "sair de casa" para anunciar a vida nova (a "Boa Notícia", o Evangelho), para viver e partilhar a "vida no Espírito" com todos, pelo mundo fora. Por isso, Pedro e João puderam dizer aos chefes dos judeus que os proibiam de falar: "Nós não podemos calar o que vimos e ouvimos" (Act 4,20). Se o fizessem, deixariam de ser eles mesmos.

1 Cf. Gen 2,7: "Deus modelou o homem com o pó da terra, insuflou em suas narinas o sopro da vida e o homem tornou-se um ser vivente"; Sl 104,29-30: "Escondes o teu rosto [aos homens], e ficam perturbados; se lhes tiras o fôlego, morrem, e voltam para o seu pó. Envias o teu Espírito, e são criados, e assim renovas a face da terra".

2 Cf. Mc 1,10: "Viu rasgarem-se os céus e o Espírito descer sobre Ele como uma pomba"; Lc 3,18: "O Espírito do Senhor está sobre mim"

3 Cf. Jo 17,21: "Como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti, que eles estejam em nós, para que o mundo acredite que Tu Me enviaste".

E foi também esta nova realidade que fez perceber aos discípulos que eram membros de Cristo (respiravam com Ele!) e membros uns dos outros. Por isso, formavam o Corpo de Cristo, um novo povo de Deus. Eram um novo modo de viver ("Amai-vos como Eu vos amei"), uma nova comunidade: a "Igreja" (cf. 1Jo 3,14). Eram cristãos.

Ao longo destes últimos anos, temos vindo a revisitar as realidades centrais da vida cristã: começámos por olhar o Baptismo como fonte da vida cristã (2019-2020) e, depois, a Eucaristia como alimento desta vida nova (2020-2021) e construtora da Igreja (2021-2022).

Este ano pastoral (2022-2023) quero convidar-vos a dar uma particular atenção ao sacramento do Crisma e, com ele, à presença do Espírito Santo em nós, dando-nos a vida de Jesus ressuscitado e convidando-nos à missão, ou seja, a mostrar com clareza e autenticidade como é feliz ser cristão, como é bom viver com Jesus, respirar com Ele e ao Seu ritmo, e partilhar a vida como cristãos (em todas as dimensões: da vida espiritual à partilha de bens materiais e à comunhão na vida eterna). Assim nos havemos de preparar para as Jornadas Mundiais da Juventude 2023 de Lisboa (1 a 6 de Agosto), com a presença do Santo Padre, que (como diz o seu lema) nos convidam a levantar e a tomar como urgente o anúncio do Evangelho (Lc 1,39).

"Ponho diante de ti a vida ou a morte, a bênção ou a maldição. Escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência" (Dt 30,19). Estas palavras de Moisés, ditas ao povo de Israel antes de entrar na Terra Prometida, são-nos hoje dirigidas: também nós, como seres livres, somos convidados a escolher entre viver com Deus ou sem Ele, entre respirar ou não com Jesus, entre escolher a Vida ou viver como mortos.

Sabemos que Deus não afasta de nós os obstáculos, os sofrimentos. Mas sabemos

também, por experiência, que Deus nos oferece um novo modo de viver e um novo

horizonte de vida: a vida verdadeira e plena (a Vida eterna).

Cada cristão é um irradiador da Vida de Deus, onde quer que esteja. Respirando com Deus e ao Seu ritmo, graças à presença do Espírito Santo em nós (Espírito que nos é dado por Deus no Baptismo, numa oferta plenamente confirmada no Crisma) vamos tornando Deus e o Seu Amor mais presentes na nossa vida e no nosso mundo. Essa é a missão de todos os cristãos e, em particular, dos que somos crismados: diante daqueles que não vivem como cristãos, somos testemunhas, presença desta vida nova que nos é oferecida por Jesus Ressuscitado, a vida no Espírito Santo. Proponho-vos, agora, algumas linhas pastorais juntamente com algumas sugestões de acções para vivermos este propósito de acolher a "Vida nova no Espírito Santo".

1. O sacramento do Crisma. É o sacramento que, colocando-nos a "respirar com Jesus", nos

faz suas testemunhas, em palavras e acções.

Assim, procuremos:

  • repensar a pastoral deste sacramento, para que ajude aqueles que o recebem a descobrir
  • a vida cristã na sua plenitude; realizar encontros de formação para catequistas e responsáveis dos grupos de crisma a nível diocesano;
  • promover a realização de encontros dos jovens com o bispo ou um seu delegado, antes da celebração do crisma; promover a nível de arciprestado encontros com crismandos.

2. Pastoral Juvenil. Os jovens são elementos importantes na vida de uma comunidade cristã, não apenas porque são o futuro, mas porque são já o presente. Muitas vezes, no entanto, os nossos jovens abandonam as suas comunidades sem uma síntese existencial da fé. Às nossas comunidades faltam jovens e faltam movimentos de apostolado juvenil que deem a conhecer a maravilha de ser cristão, que ajudem a encontrar Jesus e a fazer parte duma comunidade cristã. Assim, procuremos:

  • tornar a catequese e a pastoral juvenil das nossas comunidades momentos de encontro com Jesus Cristo;
  • dar mais atenção aos adolescentes e jovens, fazendo-os perceber a importância do seu

lugar nas comunidades;

  • escutar o contributo dos jovens para a vida das comunidades e acompanhá-los no seu

crescimento humano e cristão;

  • criar em cada paróquia um grupo de jovens.

3. A Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023. Precisamos de mobilizar todos para este acontecimento (para a semana na Diocese e para a peregrinação a Lisboa). Assim, procuremos:

  • preparar as comunidades para, durante a semana anterior às JMJ, acolherem jovens estrangeiros que connosco vêm partilhar a fé;
  • convidar as comunidades para a preparação espiritual e para a ajuda aos jovens madeirenses na sua peregrinação às JMJ;
  • envolver todos na vivência das JMJ: elas constituem um convite a despertarmos para a necessidade de tornar o Evangelho mais próximo de todos.

4. As festas do Espírito Santo. Presentes em todas as nossas comunidades, são um momento para despertar a atenção para o Espírito Santo como força evangelizadora e de caridade. Assim, procuremos:

  • preparar melhor os grupos das visitas do Espírito Santo;
  • sublinhar o sentido de anúncio alegre e pascal da visita do Espírito Santo;
  • tornar a festa do Espírito Santo uma festa da comunidade e da caridade.

5. O tempo de pós-pandemia. Ainda estamos a viver sob a influência da Covid-19. Muitas comunidades sentem ainda a dificuldade de congregar todos os que durante estes anos ficaram em casa. Muitos cristãos têm ainda medo. Assim, procuremos:

  • buscar caminhos de fraternidade e proximidade que envolvam os mais afastados;
  • promover a ajuda às comunidades que vivem com mais dificuldades do ponto de vista material e humano;
  • tornar mais activa e efectiva a nossa pastoral social nos seus diversos níveis;
  • valorizar as muitas "sementes do Verbo" que encontramos na nossa sociedade madeirense.

6. O caminho sinodal. Centro das atenções diocesanas no ano pastoral de 2021-2022, precisamos de continuar a percorrê-lo, tornando as nossas comunidades mais participativas, de forma que todos possam encontrar nelas o seu lugar e um caminho de conversão. Assim, procuremos:

  • dar continuidade à síntese elaborada na diocese, consoante o pedido do Santo Padre;
  • continuar a incentivar a criação de conselhos pastorais e económicos nas paróquias;
  • valorizar as estruturas diocesanas que expressam a comunhão e a sinodalidade;
  • estimular a formação permanente para leigos e clérigos.