Palavras do Vigário Geral nos cumprimentos de Natal ao Bispo do Funchal

08-01-2020

Cumprimentos ao Senhor Bispo

Hoje, nasceu o nosso Salvador Jesus Cristo Senhor.

Hoje, nasceu o nosso salvador!

Queria, em primeiro lugar, apresentar as boas festas ao nosso Bispo D. Nuno Brás, que, pela primeira vez, como nosso Pastor, viveu intensamente e profundamente o espírito natalício deste bom povo madeirense. Na esteira de S. Francisco de Assis, o Natal é assumido e vivido como o singular encontro com o grande e Admirável Sinal, no presépio de Greccio.

Saúdo todos os sacerdotes diocesanos, sobretudo, os doentes ou jubilados. Sois os colaboradores mais diretos do nosso Pastor na condução do povo de Deus. Saúdo também os nossos seminaristas, que são a esperança do amanhã.

Saúdo os nossos Irmãos e Irmãs de especial consagração, pois, através dos vossos carismas, sois os astros luminosos que inundam os céus destas lindas Ilhas do Atlântico.

Saúdo os nossos irmãos leigos. Deixei-vos para o fim, não porque sois os últimos, mas sim pelo lugar que ocupais na visibilidade deste mundo, através do vosso testemunho e acção, nos diversos sectores da sociedade, dando a conhecer e espalhando a mensagem de Cristo e da sua Igreja.

O "Hoje" de Deus na história

"Hoje, Deus insiste em nascer, em fazer-se carne, em fazer-se pequeno, em fazer-se menino. Insiste em fazer-se Deus connosco e em nós. Ele nasce em cada criança concebida. Nasce em cada coração que se converte. Nasce em cada batizado. Nasce em cada gesto de paz e de amizade. Nasce em cada cristão que toma a sério o seu caminho para Deus e com Deus", afirmou D. Nuno Brás, na homilia da noite de Natal.

Antes de presidir à Eucaristia do Natal do Senhor, na Sé do Funchal, comentava consigo: já são poucas aquelas atividades principais da diocese que preside pela primeira vez. De facto, em breve, vamos celebrar o seu primeiro ano de pastoreio nesta Diocese do Funchal.

O hoje do entusiasmo do primeiro dia da sua mensagem, aquando da sua nomeação e entrada solene na diocese, não se perdeu na cronologia. Todos nós, notamos em si um continuado e crescente ardor pastoral e espiritual, traduzida na paixão com que sempre nos fala da insistência de um Deus, que não de cansa de estar e habitar connosco. Senhor Bispo, continue a ser o bispo da insistência, porque como o Senhor bem o afirma e vive, o nosso Deus não é um Deus da desistência, mas da insistência; ele teima e quer ficar connosco, embora "ele tivesse vindo para o que era seu e os seus não tivessem recebido (São João).

Na sua atividade pastoral não se furta a subidas e descidas íngremes. Não só conhece muito bem as nossas ladeiras, multisseculares e representadas nas nossas escadinhas do presépio madeirense, mas também, qual bom pastor Madeirense, apoiado no seu cajado avança rumo ao Infinito. Deixa tudo e não olha a canseiras para melhor desbravar os obstáculos inerentes a todas as subidas, sempre com o olhar fito naquele que, no cimo das escadinhas, abençoa e nos chama a viver no seu eterno amor.

Geografia madeirense e o Presépio das escadinhas

Para nós madeirenses, as escadinhas do presépio e as ladeiras do calvário são uma única realidade: a concretização dos grandes mistérios da Encarnacão e Redenção de Cristo. Marcados pelo carisma franciscano, são para todos nós fonte de Vida eterna e de salvação, como o Senhor Bispo já teve ocasião de experimentar e testemunhar.

A inospitalidade da natureza do monte Calvário, nesta ilha da Madeira, dá lugar às belas paisagens verdes das nossas serras e da nossa Laurissilva, bem representadas nas nossas "lapinhas" e presépios. Tudo isto nos conduz ainda mais a viver em plenitude a grande graça da nossa vocação Batismal, nascida no mistério Pascal.

Este "Hoje" do Natal é o mesmo "Hoje", aquando do discurso inaugural da missão de Cristo na Sinagoga, quando disse: "cumpriu-se hoje as escrituras". A partir desta passagem da Escritura, jamais esqueceremos as suas palavras, em quinta-feira santa, na Catedral do Funchal, cheias de emoção, quando se dirigia a todo o clero afirmando: "Ver-vos assim, reunidos e unidos, diante do povo, em redor deste indigno servo que o Senhor colocou à frente da nossa Igreja diocesana e, sobretudo, em redor da mesa eucarística, não pode deixar de me fazer estremecer de alegria, e de fazer brotar do meu coração um hino de acção de graças - que não é menos um hino de súplica para que Ele não me abandone, e eu possa ser o pastor que a nossa diocese necessita". Para nós, clero madeirense, nestas suas palavras estão contidas e resumidas o discurso inaugural da sua missão de pastor à frente desta Diocese. São ao mesmo tempo um apelo forte de como todos nós devemos viver a nossa missão de sacerdotes.

Verificamos também que o "hoje" de Cristo atualizado na sua pessoa, como nosso Pastor, assumindo em plenitude o ser "madeirense", faz que o seja não simplesmente de nome. Vós entrais no terreno e desceis ao mais profundo das crateras destas ilhas Vulcânicas, sentindo na profundidade das mesmas as alegrias e as horas mais dolorosas deste povo Madeirense.

A experiência pastoral

Conhecedor da maior parte do clero madeirense, fez com que, durante este ano, as experiências e vivências do Seminário de Lisboa fossem um trampolim para chegar mais depressa ao coração de cada sacerdote. Nunca se furta ao diálogo nos encontros pessoais e às reuniões de arciprestado e concelho presbiteral. O "hoje" da salvação passa por todos aqueles que requerem um cuidado especial, neste caso, a grande preocupação pelos nossos seminaristas, não só nos encontros de férias em São Jorge, mas também nas celebrações da Catedral. Fazem eles parte, também, da sua família de sangue, pois nas visitas aos seus pais e familiares ou em viagens pastorais, os seminaristas, em lisboa, também são contemplados.

Tenho acompanhado de mais perto a sua preocupação constante pelo clero idoso e doente e a alegria recíproca que se vive aquando das suas visitas às suas casas. Lembro ainda os encontros com os sacerdotes mais novos. Neles é visível a alegria de quem ainda não saiu do seminário e quer continuar a caminhada do seminário. Bom sinal.

Embora esta diocese do Funchal tenha um dos presbitérios mais jovens de Portugal, não significa mais facilidade e menos cansaço no trabalho pastoral. Se é verdade que os seminários, o clero mais jovem, os idosos e doentes precisam de um acompanhamento especial, não podemos descurar a importância e o acompanhamento de todas as etapas da vida sacerdotal, como nos é recomendado pelos documentos da Igreja, nomeadamente na formação permanente do clero.

Será de realçar aqui, Senhor Bispo, o trabalho que bem conhece e sempre agradece de todos os sacerdotes, nas Paróquias mais recônditas e com densidade populacional reduzida ou em todas e quaisquer periferias da nossa sociedade, entregam o seu melhor para o maior bem do seu rebanho. Aos mais esquecidos queremos, nesta hora e nestes cumprimentos de Natal, que sejam hoje e sempre os mais lembrados.

Sabemos que a espiritualidade franciscana, plasmada em todas as nossas atividades pastorais destas ilhas da diáspora, não nos dá descanso. Contudo, enchem-nos de alegria por saber que este povo nasceu cristão, quer ser cristão e sabe ser cristão.

Saudações natalícias

Apesar de todas as contingências próprias da sociedade global em que estamos inseridos, pelo facto de sermos ilhéus, temos consciência, como ninguém, de que as subidas e os esforços que fazemos. inserem-se nas suas palavras, expressas na homilia da noite de natal: "temos de nascer sempre e em cada hoje da nossa vida". E ainda: "Jesus nasce em cada cristão que toma a sério o seu caminho para Deus e com Deus". Ou então como dizia o nosso Cardeal Tolentino, na missa no dia de Natal, citando o místico Angelus Silesius: "Se mil vezes nascesse Cristo em Belém, mas não em ti, não aconteceria Natal".

Façamos acontecer Natal, deixando Cristo nascer em nós. Senhor Bispo desejo continuação de um bom Natal e um Feliz 2020 cheio de graças e bênçãos, para si e para toda a sua diocese.

Boas Festas. Hoje, nasceu Jesus!

Cónego José Fiel de Sousa

Vigário Geral da Diocese