Mensagem da Quaresma do Bispo do Funchal

28-02-2022

Um povo que caminha em conjunto para a Páscoa

1. Sempre, em cada dia do ano, o cristão pode e deve escutar o Senhor e rezar, cuidar dos irmãos com obras de caridade, dominar as inclinações que sente para a prática do mal. Mas, de um modo muito particular, na Quaresma fazemo-lo como um povo que, em conjunto, caminha para a Páscoa. Um povo que deste modo se prepara para celebrar festivamente a morte e a ressurreição de Jesus e o envio do Espírito Santo.

A sinodalidade a que o Papa Francisco convocou toda a Igreja convida-nos a dar maior atenção ao facto de sermos povo de Deus que caminha na história e que vai transformando o mundo, tornando-o mais parecido com o pensamento do Criador.

A sinodalidade, este "caminho em conjunto" que somos chamados a fazer, é bem diferente do simples instinto social da natureza. É, antes de mais, dom de Deus: foi Ele quem nos quis salvar não como indivíduos mas como povo. E não tenhamos dúvidas: para caminharmos em conjunto, havemos de olhar primeiro para os irmãos e, só depois, para nós. Só desse modo podemos chegar à meta da nossa vida, ao Céu, não como corredores isolados mas como equipa, como povo, unidos uns aos outros como Corpo de Cristo.

É um caminho em que o próprio Deus nos oferece o alimento da Eucaristia e da Sagrada Escritura - alimento que partilhamos e que nos vai dando a forma de Deus, que é, Ele próprio, comunidade, comunhão: Pai, Filho e Espírito Santo.

2. Este ano, a meio da Quaresma, no dia 1 de Abril, a nossa diocese irá celebrar o centenário da morte do Beato Carlos de Áustria. Assim, o nosso caminho quaresmal será iluminado pela figura deste santo: jovem (morreu com 34 anos), pai de família (tinha 8 filhos) e governante (Imperador da Áustria e Rei da Hungria) que, por fidelidade às virtudes cristãs, sofreu o exílio e morreu pobre, aqui na nossa terra.

Para nos ajudar nesta celebração, que se irá prolongar até ao dia 21 de Outubro, o Papa Francisco ofereceu-nos uma particular possibilidade de viver a indulgência: concedeu que aqueles que visitarem em espírito de peregrinação a igreja do Monte, confessando-se, comungando e rezando pelas intenções do Santo Padre, se possam sentir especialmente ajudados pela Igreja e pelo amor abundante de Deus na reparação dos males que os seus pecados causaram. Sabemos como os nossos pecados causam tantos estragos à nossa volta! Sabemos como temos tanta dificuldade em os reparar, mesmo depois da confissão sacramental! E sabemos que o amor de Deus (só ele) os pode reparar radicalmente.

Por isso, havemos de peregrinar ao túmulo do Beato Carlos de Áustria, na Igreja de Nossa Senhora do Monte, usufruindo desta abundância do amor divino que a Igreja coloca à nossa disposição, para nós e para aqueles que já partiram.

3. Como todos os anos, a Quaresma é tempo para um gesto diocesano de renúncia. Madagáscar é um país que sofreu nos meses passados um conjunto devastador de ciclones que provocaram grande destruição. Nesta ilha africana, é madeirense o bispo da Diocese de Mananjary: é o Senhor Dom Alfredo Caires, natural do Caniço. Como resultado da destruição dos recentes ciclones, a própria Catedral ficou destruída. Este nosso conterrâneo pede-nos que ajudemos a sua diocese, tão necessitada. É isso que iremos fazer na renúncia desta Quaresma, que será recolhida em todas as paróquias e outras comunidades no Domingo de Ramos, ou que poderá ser entregue na Cúria Diocesana.

O ano passado, a renúncia em favor dos cristãos de Pemba, em Moçambique, foi de 26.476,08 €, tendo sido enviada àquela diocese a quantia de 30.000,00€, através da Cáritas portuguesa.

Ainda com o coronavírus entre nós - e, por isso, com todos os cuidados - não deixemos de viver esta Quaresma, procurando exercitar as virtudes cristãs, através da oração, da caridade e do jejum. Não deixemos de corresponder ao apelo do Papa Francisco para rezarmos pela paz, tão ameaçada nestes dias que vivemos. E que ninguém fique sem se aproximar do Sacramento da Confissão. Santa Quaresma para todos!

+ Nuno, Bispo do Funchal