Homilia Noite de Natal '25

25-12-2025
Foto de Duarte Gomes
Foto de Duarte Gomes

SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR

Missa da Noite

Sé, 25 de Dezembro de 2025

O nascimento de uma criança é sempre motivo para uma esperança renascida, não apenas para os seus pais e sua família como para o mundo inteiro. De facto, o aparecimento de uma vida nova, o choro dum recém nascido que saúda o universo, faz sempre ressurgir a esperança dum futuro melhor para todos.

Mas hoje não celebramos o nascimento de uma criança qualquer. Hoje alegramo-nos pelo nascimento de Deus em nossa carne, há 2025 anos.

1. Deus quis nascer de uma mulher, para viver como homem verdadeiro; quis nascer num Presépio, para se identificar com os pobres mais humildes; quis nascer de uma Virgem, para mostrar que é Deus.

a) Deus quis nascer de uma mulher. Claro que Deus poderia ter encontrado outro modo de aparecer no seio da história: Ele é o Omnipotente e não lhe faltam recursos (aqueles que a nossa imaginação poderia encontrar, e aqueles que nem sequer poderíamos imaginar). Mas Deus quis nascer de

uma mulher, uma descendente de Eva (a "nova Eva", já assim lhe chamavam os primeiros cristãos), para dela tomar a nossa carne mortal.

Não quis ser uma figura, uma aparência, um "avatar". Quis ser carne verdadeira, limitada, passível de adoecer e de morrer, capaz de sofrer. Homem verdadeiro. Não fora desse modo, e como poderia Ele salvar os "desterrados filhos de Eva" que vivem neste "vale de lágrimas" em que o pecado tornou o Paraíso primeiro?

b) Deus quis nascer pobre entre os pobres. Tivesse nascido num palácio real; tivesse nascido no conforto de uma casa; tivesse nascido com todos os cuidados, e poderia alguém julgar que aqueles que não têm onde nascer e onde viver (e, tantas vezes, até onde morrer!), estariam impedidos de O acolher. Poderiam julgar que, para acolher o Salvador, seria necessário ter dinheiro, ou fama, sabedoria ou qualquer outro tipo de poder humano.

E, assim, muitos (aqueles que o mundo põe de parte por qualquer razão) ver-se-iam excluídos. Seriam excluídos os incapazes de subir na vida, de pensar excelentes ideias e estratégias, ou até aqueles que não têm sentimentos de bondade. Não: Deus quis nascer pobre entre os mais pobres, para que todos O pudessem acolher.

c) Deus quis nascer de uma Virgem, para mostrar que aquele Menino é Deus que vem ao encontro de todos. Longe de condenar a sexualidade humana — foi Deus quem a criou, e tudo o que surge das Suas mãos é bom e importante para o bem. Mas Deus quis nascer de uma Virgem, de uma mulher que trouxesse o seu coração e o seu corpo invioláveis (como narra a memória que os evangelhos nos apresentam, e que apenas a própria Virgem Maria poderia ter partilhado com os primeiros discípulos). Quis, assim, mostrar, com esse milagre único, que era o Deus verdadeiro quem tinha nascido homem. Que aquele Menino do Presépio era o Deus único — não um herói, mesmo que acima dos outros heróis; nem um sábio, mesmo que acima dos outros sábios.

A maravilha de Deus nascer em carne humana; de se limitar a Si mesmo; de se humilhar apenas porque nos ama (a todos e a cada um); de se limitar apenas porque ama a humanidade que antes de nós habitou esta terra, e aquela que, depois de nós, a há-de também povoar, e que ama a cada um de nós, em concreto — isso sim que ninguém o tinha pensado, imaginado. Nem sequer o Profeta que nos deixou, séculos antes do acontecimento, tão feliz e exacta narração, como acabámos de escutar.

2. Eis porque surge a âncora da esperança. Eis porque nos é permitido esperar. Eis porque podemos perceber, já hoje, que "Todo o calçado ruidoso da guerra e toda a veste manchada de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto das chamas". Sim: Aquele Menino do Presépio, que Maria, José e os pastores vêem a chorar, a requerer o seu amor e carinho, é a esperança do mundo inteiro, de toda a humanidade.

Olhando para Ele, não olhamos simplesmente para o futuro: o que o nosso mundo há-de ser, já o vemos realizado neste Menino que nasceu para nós há 2025 anos. Nele encontramos o penhor de tudo quanto será, por fim, esta nossa humanidade. Nele encontramos o presente da humanidade de todos os tempos: nele, todos os "presentes" se podem encontrar.

Há 2025 anos, Deus nasceu como Homem. Nasceu para nós, que nele acreditamos; e nasceu para todos, porque a todos Ele quer salvar. Rejubilemos e cantemos: o futuro — nosso e de toda a humanidade — nasceu naquele frio presépio de Belém. E é um futuro de felicidade e de salvação; um futuro de vida, e de vida eterna.

+ Nuno, Bispo do Funchal