Homilia no Dia do Clero

12-06-2021

Homilia na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus

Madeira, Funchal, 11 de junho de 2021


Exmo. D. Nuno Brás da Silva Martins, Bispo de Funchal

Ex.mos Sr.s Bispos Eméritos

Reverendos Sacerdotes, Religiosos e Religiosas

Queridos seminaristas

Distintas Autoridades

Irmãos e irmãs no Senhor


Quero expressar a minha viva gratidão ao Senhor pelo facto de, graças ao prezado convite do Bispo D. Nuno, neste último dia de visita à linda e histórica Diocese de Funchal, ter a possibilidade de presidir, na qualidade de Representante do Papa Francisco, a esta solene celebração eucarística que é caraterizada e enriquecida de vários elementos.

Em primeiro lugar, temos a graça de celebrar juntos - em comunhão especial com o Papa e com toda Igreja - a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, que nos convida, como afirma o Apóstolo Paulo aos Efésios, a "compreender, com todos os cristãos, a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento" (Ef. 3,18). Fazemo-lo celebrando o Mistério Eucarístico que, como muito bem expressa o Programa Pastoral da Diocese neste ano pastoral, deve constituir o elemento central da vida de fé de cada batizado e de cada comunidade cristã. A liturgia eucarística é a maneira mais bela e eficaz de nos ajudar a entender e pôr em prática o imenso amor de Cristo, simbolizado eficazmente pela imagem do Sagrado Coração de Jesus. De facto, cada vez que celebramos o memorial do sacrifício de Jesus na cruz, temos ocasião de entender melhor como foi grande e concreto o amor de Jesus que, pela nossa salvação, aceitou livremente entregar a sua carne e derramar o seu sangue. Cada Santa Missa é, portanto, a ocasião para sintonizar os nossos corações com o Coração de Cristo.

Celebrar hoje o Dia do Clero, é também uma ocasião para evidenciar como os presbíteros, tendo o privilégio de presidir à celebração do mistério eucarístico, têm uma responsabilidade particular de conformar a própria vida ao mistério de amor de Cristo e colocar-se em plena sintonia com o Sagrado Coração de Jesus, cultivando os mesmos sentimentos e atitudes do Bom Pastor.

Infelizmente, muitas vezes os nossos corações não vibram na mesma frequência do Coração de Cristo porque terminam por ser desafinados por causa do pecado, da mediocridade, do influxo da mentalidade do mundo. Cada celebração eucarística, se vivida com fé e recolhimento, deveria transformar-se num momento de graça no qual Jesus nos indica o amor, concreto e generoso, como a nota dominante, que dominou a sua vida e que deve ser ponto de referência da nossa vida. Assim, cada comunidade cristã desta Diocese, chegando a ter um só coração e uma só alma (At 4,32) chega a ser como uma maravilhosa orquestra onde cada um, segundo os dons e carismas que recebeu, contribui para executar uma maravilhosa sinfonia constituída por tantos atos de fé, de esperança e de caridade, revelando assim o mistério do amor de Deus.

Celebrar hoje o Dia do Clero e os 500 anos da escolha de São Tiago Menor como padroeiro da Diocese e da cidade do Funchal, ajuda-nos a viver de maneira ainda mais intensa esta experiência de sintonizar os nossos corações com o Sagrado Coração de Jesus. De facto a figura, as palavras e a vida de São Tiago constituem um exemplo concreto do que deveria ser também a nossa vida. Ele é para nós um luminoso exemplo de fé em Jesus, a quem dedicou o resto da sua vida, chegando a ser o primeiro Bispo de Jerusalém. Pessoa mui respeitada pela sua bondade, simplicidade, sabedoria; foi paciente em ajudar sobretudo os judeo-cristãos a assimilar o espírito do Evangelho. Porém, foi também claro e corajoso em testemunhar que Jesus é o Salvador. E foi por este testemunho corajoso que foi morto no mesmo templo de Jerusalém, acusado de blasfémia por haver proclamado que Jesus é o Messias e Salvador. Sem dúvida o coração de São Tiago vibrava em uníssono com o Sagrado Coração de Jesus porque no momento do seu martírio pronunciou as mesmas palavras de perdão de Jesus e do diácono Estêvão: "Peço-te Senhor Deus Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem" (Memórias de Hegésipo). E, além disso, na sua bem conhecida carta, que faz parte do Novo Testamento, recorda-nos e indica-nos de maneira concreta e detalhada o que significa estar em sintonia com a nota dominante que Jesus nos deu: o mandamento do amor, vivido de maneira muito concreta, muito coerente. Como são importantes e bem conhecidas as seguintes palavras de São Tiago: "Se a fé não tiver obras, é morta em si mesma" (Tgo 2,17).

É motivo de admiração, alegria e profundo significado o facto de hoje, 11 de junho de 2021, Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, se cumprirem exatamente 500 anos desde aquele 11 de junho de 1521 no qual escolheram formalmente o Apóstolo São Tiago como padroeiro. É um sinal forte com o qual Deus convida os membros desta comunidade diocesana a colocar-se em plena sintonia com o Sagrado Coração de Jesus, assim como o fez na sua vida São Tiago. Assim poderá continuar a dar, como fez durante os séculos passados, o seu testemunho de fé, esperança e caridade. Temos de pedir a Deus que esta Diocese possa continuar a dar, mediante muitas e santas vocações à vida sacerdotal e consagrada, um luminoso exemplo de generosidade na expansão do Reino de Deus nos diferentes continentes. Por outro lado, sabemos que o território desta Diocese se tornou - mediante o esforço, o trabalho e a habilidade desta gente acolhedora e trabalhadora - um importante lugar de turismo, onde chegam pessoas de todo o mundo. Há, portanto, que reconhecer que esta Comunidade cristã, guiada pelos seus pastores, tem uma ocasião excecional para continuar a dar, graças à sua vocação à globalidade, um testemunho semelhante àquele que, nos séculos passados, foi dado nos diferentes continentes.

Ao assumir os compromissos que podem ser tomados neste Aniversário e na mencionada coincidência, pedimos a mediação e intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, que do Céu intercede por nós. Amanhã celebraremos a memória do seu Imaculado Coração, outro coração que vibrou em uníssono com o coração do seu Filho Jesus e com o do Apóstolo São Tiago. Assim, esta bela e benemérita Comunidade diocesana terá a possibilidade de continuar a ser, no contexto da beleza destas ilhas, um maravilhoso instrumento nas mãos de Deus para expandir o seu Reino, um Reino de paz, de justiça e de amor, na expetativa da chegada gloriosa de nosso Senhor Jesus Cristo.


+ Ivo Scapolo

Núncio Apostólico