Homilia na Ordenação do Diácono Aldónio Melim
Ordenação do Diácono Aldónio
"O Senhor do universo há-de preparar sobre este monte, para todos os povos, um banquete de manjares suculentos, um banquete de vinhos deliciosos" (Is 25,6).
Se em muitas passagens bíblicas o "fim do mundo" (a resolução final da história) é comparado a um julgamento em que Deus separa o bem do mal (altura de tormentos para quantos livremente escolheram as trevas, o ódio, o mal), em muitas outras passagens esse final é apresentado como semelhante a um grande banquete festivo.
É o que sucede com as passagens bíblicas de hoje, retiradas do capítulo 14 do evangelho segundo S. Mateus, e do capítulo 25 do Profeta Isaías. Deus e a humanidade encontram-se definitivamente. E fazem festa: um banquete de manjares suculentos e vinhos deliciosos! É a alegria final de quem passou por tormentos e dificuldades ao longo do percurso — tormentos e dificuldades da parte do ser humano, mas também tormentos e dificuldades da parte do próprio Deus (basta-nos olhar para a cruz!). É a alegria de quem conseguiu o objectivo último a que se tinha proposto: o ser humano, convidado por Deus, sentado à Sua mesa, partilhando com Ele a Festa, a Bem-aventurança total e definitiva, para sempre!
É para este momento (para este encontro definitivo com Deus) que vivemos, que lutamos e trabalhamos, todos nós.
É para este momento que existem a Igreja e todas as suas actividades — da celebração dos sacramentos à catequese; do anúncio do Evangelho ao cuidado dos pobres e ao acompanhamento daqueles que, finalizada a sua função na terra (os defuntos), nos deixaram, libertos dos laços deste mundo para viverem definitivamente em função apenas de Deus. É para este momento que existem as famílias. É para este momento que existem as organizações, movimentos, secretariados…
Mas é também para este momento que existem as empresas e as associações. É para ele que existem os clubes de futebol e a organização política dos Estados. É para este momento que existem a ciência e a técnica. É para este momento que trabalhamos e lutamos, mesmo naquelas alturas em que não fazemos nada de claramente religioso. Até aqueles que não o sabem, que não têm fé, é para esse momento que vivem! É para esse momento maravilhoso do encontro definitivo com Deus — qual banquete de manjares suculentos e vinhos deliciosos, quando todos nos encontrarmos sentados à mesa divina. Esse é o objectivo da história do universo. Esse é o objectivo da história, da vida, de cada ser humano!
As leituras que escutámos diziam-nos claramente que todos são convidados. "O Senhor do universo há-de preparar para todos os povos um banquete", dizia o profeta, sublinhando que não existem à partida povos excluídos em função de uma qualquer categoria humana — da sua cultura, do seu modo de vida, da técnica que têm ao seu dispor, da organização da sua sociedade, ou até da sua religião predominante. E Jesus, na parábola do evangelho, dizia aos servos: "Ide às encruzilhadas dos caminhos, e convidai todos os que encontrardes".
Mas para que todos possam escutar o convite e lhe possam responder (revestindo-se depois com traje do banquete, quer dizer: revestindo-se de Cristo, revestindo-se da vida cristã), o Senhor envia os servos. Eles estão encarregados de convidar. Sobre os seus ombros recai a missão de viverem de tal modo que o convite divino chegue a todos ("todos, todos, todos", dizia há dias em Lisboa o Papa Francisco!). Aos servos não cabe julgar, decidir quem toma parte no banquete: só o Senhor tem poder para discernir quem está ou não revestido da veste apropriada, da vida de Cristo. Os servos somos todos nós, os baptizados. Temos por missão fazer chegar a todos o convite que Deus lhes dirigiu em Jesus de Nazaré.
2. Vivemos o momento de ordenação de um Diácono Permanente, que ficará ao serviço das comunidades do Porto Santo. Importa que tomemos consciência de que, no seio da Igreja, é tarefa primeira, principal, prioritária, de cada um dos seus ministros ordenados fazer que a todos chegue o convite para participar no banquete final com Deus.
Ou, dito de outro modo: é sua tarefa primeira a de "evangelizar". Bispos, presbíteros ou diáconos, essa é a tarefa em que havemos de gastar a maior parte do nosso tempo. A acção em que havemos de colocar a maior parte das nossas energias: que cada ser humano se sinta, se perceba convidado para o banquete final com Deus.
De um modo particular os Diáconos. Essa é mesmo uma das questões que lhes é colocada antes da ordenação, como disposição prévia e necessária: "Queres proclamar a fé, por palavras e obras, conforme o Evangelho e a tradição da Igreja?" E, depois da ordenação, explicando o sacramento recebido, e entregando o evangeliário ao recém-ordenado, o bispo diz-lhe: "Recebe o Evangelho de Cristo, que tens a missão de proclamar. Crê o que lês, ensina o que crês e vive o que ensinas".
Caro José Aldónio, a tua vida baptismal (a tua vida cristã) passará hoje a ter uma nova qualificação. Não se trata tanto de um conjunto de responsabilidades maiores, acrescentadas às que já recebeste no dia do teu batismo e que, ao longo do resto da tua vida, partilharás com o restante povo de Deus.
Trata-se de uma nova qualificação que te é entregue como missão e serviço — missão confiada em primeiro lugar aos apóstolos e aos seus sucessores (os bispos), e que agora te é entregue, de modo a que dela participes, segundo a tua condição: a missão de ajudares o teu bispo no cuidado quotidiano dos pobres e dos doentes, na pregação do Evangelho a todos, na celebração do baptismo, no acompanhamento dos funerais, na assistência e bênção dos matrimónios, em favor sempre e primeiro de todo o povo santo de Deus, e de forma a que todos se sintam convidados para o Banquete do Senhor.
"Tudo posso naquele que me dá força" (Filp 4,13), dizia o Apóstolo S. Paulo na IIª leitura. Procura, tu também, que o verdadeiro sustento da tua vida seja o Senhor que nos dá forças — que nos dá a Sua força, que é o Espírito Santo. Não procures essa fortaleza em mais nada ou em mais ninguém. E, no final, o Senhor da messe, que te chamou a tão grande serviço, percebendo como estás revestido de Cristo, te há-de escolher e sentar-te à mesa do banquete do Seu Reino.