Homilia Jubileu dos Catequistas

05-10-2025
Foto de Duarte Gomes
Foto de Duarte Gomes

JUBILEU DOS CATEQUISTAS

XXVII Domingo do Tempo Comum (C)

Porto Moniz, 5 de Outubro de 2025

1. A Palavra de Deus que escutámos, nas suas três leituras, convida-nos à fé. O que é a fé? A fé é a nossa resposta à iniciativa que Deus toma de vir ao nosso encontro (cf. DV 5).

Sim: Deus procurou a humanidade, veio ao seu encontro nos profetas e nos acontecimentos do Antigo Testamento e, sobretudo, veio ao nosso encontro quando, esquecendo a sua condição divina, se fez Homem em Nosso Senhor Jesus Cristo (Filp 2,6-11).

Jesus: nele, Deus vem ao nosso encontro. Nele, um homem que era visto e escutado, seguido; um homem que reunia à sua volta os discípulos e as multidões, e lhes dizia palavras nunca antes escutadas e fazia diante deles milagres, maravilhas nunca antes vistas — nesse Jesus de Nazaré, era Deus que vinha ao encontro da humanidade.

E, hoje, Deus continua a vir ao encontro de cada um de nós: veio até nós por meio da nossa mãe que nos levou pela primeira vez à Missa e que rezou para que o filho que trazia no ventre nascesse saudável e fosse um bom cristão; vem até nós por meio dos nossos amigos e familiares, que nos deram o testemunho de quem olha e percebe os acontecimentos da vida à luz de Deus; vem até nós por meio da Igreja, da nossa comunidade paroquial; vem até nós, dum modo particular, através dos catequistas, verdadeiros "pilares da fé". E, ao lado de todas estas presença e de todos estes modos de Deus nos encontrar, deveríamos ainda acrescentar os acontecimentos do mundo e da nossa vida, e tantos, tantos outros modos, sempre surpreendentes, que Deus usa para vir até nós e estar presente na nossa vida…

É sempre surpreendente que Deus venha ao nosso encontro, ao encontro de cada um de nós! E devemos deixar-nos surpreender. Que Deus não se esqueça de cada um de nós e nos queira bem, a nós que somos pecadores; que Deus nos ame, não como mais um entre muitos, mas assim, como somos, com as nossas capacidades e as nossas dificuldades. Se Deus nos procura e vem ao nosso encontro, devemos responder-Lhe, devemos co-responder-Lhe! E essa resposta tem o nome de "fé".

É por isso (porque é resposta à iniciativa de Deus) que a fé toma conta e ilumina toda a nossa vida: Deus não poderia ocupar apenas uma parte, um pedaço de nós. Ele entrega-se completamente, entrega toda a sua vida (vemos isso na cruz de Jesus), e espera, de cada um, uma resposta completa, total — como aprendemos no 1º mandamento: "Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua inteligência".

É por isso que a fé nos transforma interior e exteriormente. É por isso que a fé se torna o verdadeiro motor de transformação da nossa sociedade: é Deus connosco, a tomar a iniciativa, a conduzir-nos! É por isso que a fé nos dá a possibilidade de olhar mais longe, de olhar para o Céu e, desse modo, termos esperança! Aquele que procura corresponder ao amor de Deus, faz-se portador do próprio Deus! Verdadeiramente: "Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: 'Arranca-te daí e vai plantar-te no mar', e ela obedecer-vos-ia".

2. Não eram tolos nem simplórios os nossos antepassados madeirenses quando olhavam tudo o que viviam e lhes acontecia à luz da fé, quer dizer: à luz do seu encontro com Deus. Podiam ser analfabetos; podiam não ter recursos nem cursos académicos; podiam não ter feito nenhuma viagem ao estrangeiro. Mas tinham a sabedoria da fé, a sabedoria do coração!

E foi essa sabedoria que os tornou resilientes; que lhes deu a coragem de lutar e de construir, de transformar a rudeza da orografia da nossa Ilha num lugar aprazível. Olhamos para o seu trabalho e não podemos deixar de o admirar: desde a construção das levadas ao cultivo da cana de açúcar e da banana, com sacrifício e luta; desde o sofrimento à alegria da festa; desde o individualismo egoísta em que todos nascemos, ao cuidado do próximo e à entre-ajuda.

Os madeirenses eram (quase podíamos dizer: por natureza) cristãos, mesmo antes do seu nascimento. A fé fazia parte do seu dia a dia: de manhã, agradeciam mais um dia e pediam a ajuda e benção divina para os trabalhos do quotidiano; à noite agradeciam o auxílio do Senhor. Em tudo procuravam perceber e fazer a vontade de Deus. E, por isso, também festejavam. E, por isso, as suas festas tinham sempre a marca de fé.

Hoje, parece que perdemos muito desta capacidade de lutar e de construir! Parece que somos incapazes, e que mais não fazemos que repetir o que já se sabe e já é conhecido — que, mesmo quando usamos a técnica, a electrónica, parece que já sabemos tudo, mesmo com uma roupagem nova; parece que tudo não passa de velhas atitudes. Parece que o egoísmo tomou conta da nossa vida e que facilmente nos esquecemos do outro.

Mas não tenhamos dúvida: se a sociedade madeirense não se transforma, não se converte, é porque tem os ouvidos mais surdos e o coração mais fechado a Deus que, mesmo assim, insiste em vir ao seu encontro! Sem Deus, estaremos condenados à velhice do pecado.

3. É por isso que a catequese é tão essencial. Não apenas à vida da Igreja na nossa terra, como à vida de toda a sua sociedade. Um homem ou mulher de fé percebe que "o sofrimento do tempo presente não tem comparação com a glória que se há-de manifestar" (Rom 8,18).

Quer dizer: quando temos fé, os pés estão assentes na terra (lutamos, trabalhamos, festejamos, sofremos…); mas o coração está sempre em Deus, neste Jesus que hoje nos acompanha e dá força, e neste Jesus que nos faz olhar para os santos e para a vida divina que eles já partilham, e para onde nos chamam a cada um de nós e a todos. O horizonte de vida daquele que acredita não é apenas o momento, o hoje, o aqui e agora; o seu horizonte é o próprio Céu, a vida eterna.

Precisamos cada vez mais de catequistas que não ajudem apenas os nossos jovens a portar-se bem, mas que os ajudem a ter fé, a viver a fé, a co-responder ao amor que Deus lhes tem. Que sejam para eles testemunhas da fé! Precisamos de catequistas que ajudem os nossos jovens não apenas a desenrascar-se, a serem conhecedores da ciência e da técnica, mas a serem capazes de viver com Deus e à luz de Deus.

Hoje, damos particularmente graças pelos nossos catequistas, pelos grupos de catequese que funcionam em todas as paróquias da nossa Diocese, pelas crianças e pelos jovens que os frequentam. Pedimos ao Senhor a graça de que cada encontro de catequese seja um encontro de fé, que aumente a fé de todos.

Que Ele nos ajude a dar vida a comunidades cada vez mais crentes — não com a crendice humana de quem se vê aflito e recorre à ajuda de Alguém superior, mas com a fé de quem tudo vê e vive à luz de Jesus, morto e ressuscitado, verdadeiramente presente no meio de nós!

+ Nuno, Bispo do Funchal