Homilia Exéquias D. Teodoro Faria

27-08-2025
Foto de Duarte Gomes
Foto de Duarte Gomes

EXÉQUIAS DO SENHOR D. TEODORO

Sé, 26 de agosto de 2025

Leituras:
Ap 21, 1-5a.6b-7
Salmo 121 (122), 1-2.4-5.6-7.8-9
Ef 3,3-9
Jo 14,1-6

1. A celebração das exéquias de um cristão é sempre, antes de mais e acima de tudo, uma proclamação do mistério pascal de Cristo — quer dizer: da Sua vitória sobre a morte. É, por isso mesmo, a celebração da absoluta centralidade histórica e sobrenatural de Nosso Senhor Jesus Cristo que, a tudo quanto se aproxima de Si, faz participar da sua vida — vida eterna, única, vitoriosa sobre o pecado e a morte.

Sim, irmãos: diante da morte de um ser humano, de um cristão e de um bispo, nada mais temos a proclamar senão Jesus Cristo e a sua vitória sobre a morte.

Diante do que poderia parecer o sem-sentido da nossa existência (uma vida para a morte), nós cristãos, não podemos deixar de proclamar o único e verdadeiro sentido, não apenas da existência de cada um, mas da existência de todos e do mundo inteiro: Cristo, alfa e ómega, princípio e fim do universo.

Como afirma o Apóstolo: "Quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e este corpo mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: A morte foi engolida na vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?" (1Cor 15,54-55).

A Iª Leitura falava-nos desse mundo novo, vindo do Céu, de junto de Deus, e que a vida sacramental nos permite já saborear. É para ele que queremos caminhar cada vez mais, com maior decisão, quais peregrinos da verdadeira Cidade Santa, a nova Jerusalém.

Ou, como ensinava o Senhor D. Teodoro, numa das suas suas homilias de Páscoa: "Eis a nova realidade: o cristão pertence já a Cristo ressuscitado. Tendo morrido para o pecado, já participa da condição do ressuscitado. Por isso, devemos procurar as coisas do alto. Não se trata de fugir ou abandonar o mundo, mas de pensar e agir de uma forma diferente, rejeitando a avareza, o vício, a violência, e aderindo às novas realidades de pessoas salvas, chamadas à santidade e comunhão com Deus" (4 de abril de 2004).

2. Mas hoje celebramos, de modo particular, a Páscoa de um bispo que foi Pastor desta nossa Igreja funchalense.

Santo Ambrósio, admirável bispo de Milão (e um dos arquitectos da cultura ocidental), teve a graça de falecer na noite de 3 para 4 de abril do ano 397, quer dizer: na noite de Sexta para Sábado Santo. Nesse ano, os cristãos de Milão celebraram a Páscoa ao redor do catafalco do seu bispo, ficando assim evidente para todos que a Páscoa do bispo é a Páscoa de Cristo.

Hoje não é Domingo de Páscoa. Contudo, hoje celebramos a Páscoa. E a Páscoa de um bispo que foi nosso Pastor. Celebramo-la à volta dos seus restos mortais, mas é a Páscoa de Cristo que celebramos — Cristo que nele vivia desde o momento do seu baptismo e que o constituiu pastor do seu povo.

Cada bispo — como qualquer outro ser humano — tem, obviamente, qualidades e defeitos. Não nos toca a nós fazer juízos humanos, ou opinar sobre o que significou para a nossa Igreja Diocesana o ministério episcopal do Senhor D. Teodoro. Deixamos isso não tanto para a história e para quem a há-de escrever, como (sobretudo) para o Senhor da História, juiz misericordioso, Pai de bondade — o único a conhecer os corações, as intenções íntimas, o todo da história, com todas as suas variáveis, e para lá do que possam ser as aparências. O único que, por ser Amor, pode julgar.

Mas queremos, isso sim, dar graças a Deus pelo facto de, no Senhor D. Teodoro, nos ter dado um Pastor — que o mesmo é dizer: um sinal sacramental da Sua presença, de modo que à nossa Igreja Diocesana não faltassem os dons da graça necessários para que todos caminhemos para o Céu.

"A mim, foi concedida esta graça de anunciar como boa nova aos gentios a insondável riqueza de Cristo", dizia-nos o Apóstolo Paulo na IIª Leitura (Ef 3,8) — passagem que o Senhor D. Teodoro tomou como lema do seu ministério episcopal (Evangelizare divitias Christi), vivido não apenas aqui na nossa Ilha, como também um pouco por todo o mundo, ao serviço das comunidades portuguesas na diáspora.

Foi precisamente Santo Ambrósio quem, num escrito dirigido aos recém-baptizados, advertia: "[Quando foste baptizado] viste o levita, o sacerdote, o sumo-sacerdote. Não penses no seu aspecto exterior, mas na graça do seu ministério. […] É o mensageiro que anuncia o Reino de Cristo e a vida eterna. Não deves apreciá-lo pela sua aparência, mas pelo seu ministério. Considera o que ele te deu, aprecia a sua função e reconhece a sua dignidade" (Sobre os Mistérios, 6).

Queremos por isso, e acima de tudo, agradecer ao Pai o ministério sacerdotal e episcopal do Senhor D. Teodoro, portador da graça da salvação, das insondáveis riquezas de Cristo, que ele quis sempre anunciar.

3. No entanto, cada um de nós que aqui se encontra tem, certamente, algo que, tendo origem em Deus, foi recebido por meio do Senhor D. Teodoro: desde a amizade à sabedoria; desde o baptismo ao sacramento da Ordem; e tantos outros dons.

E a nós, seres humanos, convém-nos ser agradecidos. Os dons de Deus não nos chegam directamente vindos do céu, ou por um passo de magia. Chegam-nos por meio da fragilidade humana — precisamente: a carne que o Verbo de Deus assumiu para se nos mostrar com toda a sua glória; a fragilidade que, também connosco, se torna portadora dos dons divinos.

Sim: somos devedores ao Senhor D. Teodoro de tantos e tantos dons. E o modo melhor de agradecer é permanecermos unidos na oração, à volta do altar. Como pedia Santa Mónica, cuja memória celebraremos amanhã, ao aproximar-se a hora da passagem para o Pai: "Enterrai este corpo em qualquer parte e não vos preocupeis com ele. Só vos peço que vos lembreis de mim junto do altar do Senhor, onde quer que estejais" (Confissões, IX,11).

Também nós, junto do altar do Senhor, pedimos ao Pai misericordioso que perdoe ao Senhor D. Teodoro as faltas que, por fragilidade, tiver cometido. E pedimos, também, que o acolha no seu Reino. Mas, ao mesmo tempo, agradecemos todos aqueles momentos em que este nosso bispo foi, para cada um, sinal tangível da presença de Deus.


+Nuno, Bispo do Funchal


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