Homilia Dia de Natal '25

25-12-2025
Foto de Duarte Gomes
Foto de Duarte Gomes

SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR

Sé do Funchal, 25 de dezembro de 2025

Há 2025 anos, Deus fez-se Homem

Deus, silêncio eterno e palavra que se expressa na criação; Deus, princípio e fim; Deus, criador e animador da vida; Deus, sabedoria eterna; Deus, lógica da natureza e da existência humana; Deus, que a nossa razão e o nosso pensamento jamais poderão completamente abarcar; Deus, ternura paterna que nos cuida e dirige; Deus beleza que nos atrai; Deus, unidade que nos encontra e volta a reunir o que está dividido; Deus, redentor que nos salva… Há 2025 anos, Deus fez-se Homem.

Há 2025 anos, Deus invadiu a história. Ele, que é o princípio e fim dos tempos, fez-se acontecimento. Ele, que é o Eterno, fez-se tempo, fez-se momento, para que nós, que vivemos no antes e no depois, O pudéssemos escutar — e, escutando, pudéssemos partilhar da sua eternidade.

Há 2025 anos, na pequena e desconhecida cidade de Belém, a história do homem adquiriu um centro, e o tempo recebeu a sua razão de ser. Do "antes de Cristo", o mundo passou ao "depois de Cristo". Se, até então, tudo caminhava para Ele, depois tudo passou a ser possibilidade, Evangelho, Boa Nova.

Há 2025 anos, Deus nasceu. Quis nascer como realização da Promessa feita aos nossos primeiros pais e renovada a Abraão, Isaac e Jacob, Moisés, David, Isaías e tantos outros profetas; quis nascer no seio do povo da antiga Promessa e, desde o primeiro instante, quis nascer para todos.

Veio para iluminar o mundo — para que a humanidade, cega pelo pecado, pudesse contemplar a beleza do amor; para que quantos se deixam paralisar pelo medo ou pela falta de coragem, pudessem caminhar com decisão; para que os corações prisioneiros do ódio, pudessem amar de verdade.

Há 2025 anos, Aquele que era invisível, Aquele de quem não se podiam fazer imagens, Aquele cuja luz os nossos olhos não podiam suportar ou contemplar, fez-se visível, para que todos pudéssemos conviver com Ele: todos, desde os pobres aos fariseus e saduceus e, sobretudo, os publicanos e mulheres de má vida — pecadores pequenos e grandes, que se pensavam arredados do Reino… fez-se visível para que todos O pudessem ver, e deixando-se atrair pela Sua beleza, pudessem deixar-se transformar, converter.

Há 2025 anos, Deus nasceu pobre para que ficasse claro que o encontro com Deus não era exclusivo de ricos, de sábios ou de famosos. Nasceu pobre para que todos, mesmo os excluídos do mundo, pudessem ter acesso ao seu convívio. Nasceu pobre, para que ninguém ficasse excluído da sua graça salvadora. Nasceu pobre para que ficasse claro que as riquezas, os poderes do mundo, os reconhecimentos humanos de nada valem diante do verdadeiro amor, único e supremo bem.

Há 2025 anos, a Sabedoria fez-se carne para que pudéssemos saborear o dom da vida. O Santo fez-se semelhante ao pecador, para que abandonássemos as obras mortas do pecado e nos pudéssemos revestir das armas da luz (cf. Rom 13,12).

Há 2025 anos, Deus nasceu como Homem. E mudou a vida dos homens. O Céu tornou-se próximo; a vida humana ganhou novo sentido; a morte e o pecado deixaram de ser uma fatalidade. Há 2025 anos, Deus nasceu como Homem: o Céu iluminou-se, e o coração de quantos O acolheram transformou-se em luz que brilha e ilumina o mundo. "Felizes os vossos olhos porque vêem e os vossos ouvidos porque ouvem. Em verdade vos digo: muitos profetas e justos quiseram ver os que vós vedes, e não viram; e ouvir o que escutais e não ouviram" (Mt 13,16).

Há 2025 anos, o Verbo eterno do Pai uniu-se a cada ser humano, a cada um de nós. Alegremo-nos: Deus está connosco. Quando vivida com Ele, a vida humana faz sentido. Não deixemos que passe por nós sem Lhe abrirmos a porta e O convidarmos a entrar.

+ Nuno, Bispo do Funchal