Homilia Dia da Região

01-07-2025
Foto de Duarte Gomes
Foto de Duarte Gomes

DIA DA REGIÃO

Sé, 1 de Julho de 2025

Leituras: 1Re 3,11-14
Sl 126 (127)
Ef 4,30-5,2
Mt 22,15-21

1. Hoje damos graças a Deus pelo que somos: pela Ilha que nos moldou e continua a moldar; pela história de que somos herdeiros, com os caminhos percorridos, com as vitórias obtidas juntamente com as derrotas e os obstáculos mais ou menos ultrapassados; e damos graças pela comunidade que somos e que diariamente nos enriquece, permitindo a cada um e a todos ser mais, imensamente mais, que se vivêssemos isolados. Damos graças a Deus por sermos madeirenses: nesta Ilha, com esta história, ao lado desta gente, no meio deste povo.

E, como fez Salomão, muito mais que riquezas e vitórias sobre os inimigos, pedimos a sabedoria. Sábio é aquele que, olhando a realidade, é capaz de ver simultaneamente mais longe e mais profundo, e de ser sempre mais porque deixa que tudo quanto é, pensa e deseja tenha a sua origem e a sua força, o seu dinamismo e o seu destino último em Deus.

A sabedoria acolhe a todos, e de todos (amigos ou inimigos) procura entender as razões. A sabedoria faz escutar a palavra que é digna de ser tomada em consideração, guardando-a a fazendo dela um verdadeiro tesouro, tal como faz esquecer o que é dito, o que ofendeu, pronunciado num momento e que, por isso, não merece ser guardado — muito menos como semente de ódio — no nosso coração.

A sabedoria faz ver mais longe e mais profundamente: para além das aparências e para além dos limites humanos e materiais. A sabedoria convida-nos a saborear e a louvar a Deus pelo gosto bom da vida, e a detestar e procurar ultrapassar o sabor amargo do pecado e da morte.

Sim, precisamos sempre de pedir a sabedoria e de nos dispormos a acolhê-la, pois que ela não brota espontaneamente no nosso coração. E, nos tempos em que vivemos, precisamos de a pedir sobretudo para o nosso viver social, como sociedade madeirense.

Num mundo, que a passos largos, se encaminha para a guerra, pedir a sabedoria é pedir para os madeirenses a capacidade de serem sempre construtores de paz. Num mundo de interesseiros egoístas, precisamos de pedir para todos a alegria de ser, viver e servir em comunidade. Num mundo que acentua as divisões e distancia os seres humanos uns dos outros, precisamos de pedir para os madeirenses a capacidade de colaborar uns com os outros, cada um segundo as suas capacidades, na construção duma sociedade mais justa e fraterna.

2. No âmbito do Jubileu de 2025, o Papa Leão XIV recebeu, há dias, um grupo de parlamentares e governantes de 68 países. Nas palavras que, nessa ocasião, lhes dirigiu, o Papa chamou a atenção para três questões centrais nas sociedades contemporâneas — e que, por isso, devem ser tidas em conta na actividade política. Quero, também eu, fazer-me eco das palavras do Papa Leão XIV.

Em primeiro lugar, o Santo Padre referiu-se à actividade política como tutela e desenvolvimento do bem da comunidade, tendo em particular atenção a defesa dos mais frágeis e marginalizados. Dizia ele: "Uma boa acção política, favorecendo a equitativa distribuição dos recursos, pode constituir um serviço eficaz à harmonia e à paz, seja a nível social, seja no âmbito internacional".

Em segundo lugar, o Papa recordou a fé em Deus como fonte de valores positivos e "fonte imensa de bem e de verdade na vida de cada ser humano e das comunidades", sempre com uma "imprescindível referência à lei natural. Esta, por não ter sido escrita pela mão do homem, é reconhecida como válida, universalmente e em todo o tempo, encontrando na própria natureza a sua forma mais plausível e convincente". E o Santo Padre referia como exemplo de lei natural a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Por fim, Leão XIV referiu-se à revolução digital por que estão a passar as nossas sociedades. Corremos o risco de centrar a nossa atenção apenas nas realidades digitais, quando "A vida pessoal vale muito mais que um algoritmo, e as relações sociais necessitam de espaços humanos muito superiores aos esquemas limitados que uma qualquer máquina sem alma possa confeccionar".

A defesa do bem comum; a fé e a lei natural como fonte de valores que constroem a sociedade e como critério para ultrapassar discórdias; a vida humana como valor fundamental, acima de qualquer máquina ou criação do ser humano: eis três dimensões que não deixaremos, também nós, de ter em conta na edificação sábia do nosso viver madeirense.

Assim tenhamos todos a disponibilidade para acolher os dons e as moções do Espírito de Deus que Ele nos oferece.

+ Nuno, Bispo do Funchal