Guião para as Missas do Parto

11-12-2018

Os temas das missas do Parto foram preparados pelas Irmãs Missionárias da Verbum Dei a convite do Secretariado de Pastoral.

MISSAS DO PARTO 2018

SER CRISTÃO, VIVER EM MISSÃO. E SE FOR ESTE O SIGNIFICADO DO NATAL?

Com facilidade podemos transformar o tempo de Advento numa repetição de gestos e tradições inofensivas, que apenas preparam uns dias bem vividos em torno da família. Esquecemos, porém, que o Advento é um tempo que nos quer levar muito mais longe, que nos quer recentrar em Jesus, que nos quer desinstalar das nossas rotinas e acordar em nós uma maior consciência da missão, tal como nos convida o ano missionário que estamos a viver na Igreja em Portugal.

Em preparação para o mês missionário de outubro de 2019, somos também chamados a retomar com novo impulso a transformação missionária da vida e da pastoral[1]. Este novo impulso vem-nos do encontro pessoal e renovado com Jesus Cristo. Oxalá que o encontro com Ele neste Natal nos faça mais felizes, mais alegres, mais discípulos, mais missionários!

Maria, a Senhora do Parto, é aquela que nos acompanha passo a passo e nos leva sempre ao encontro com Jesus.

Nove dias, nove passos de preparação para a Festa do Natal mas também nove dias para começar a ser feliz porque a hora do encontro vai chegando. Como dizia Saint Exupery, "Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieto e agitado: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...".

Que o Natal nos deixe inquietos e agitados, na procura do que de verdade importa e do sentido pleno da vida. Chegou a hora de preparar o coração. Por isso, aproveitemos estes dias para aprender a ser felizes porque vem ao nosso encontro Aquele que nos pode trazer a paz, a alegria, a sabedoria, que o nosso mundo, mesmo sem saber, tanto anseia!

DIA 15 DE DEZEMBRO

Ser Missionário é preparar-se para reconhecer o Deus que nos visita

O missionário não é aquele que tem tudo resolvido, tudo pronto, que sabe tudo e não precisa de aprender mais nada, mas é aquele que sabe que ainda tem um caminho longo para percorrer e por isso, se abre à novidade e à mudança de vida e de mentalidade que a presença de Deus sempre provoca em nós. No entanto, também podemos fechar-nos na nossa autoreferencialidade, no que já alcançámos e também nos nossos impossíveis. Fechamo-nos na nossa maneira de ver e pensar, no que tem de ser a nossa vida, a nossa familia, a Igreja, o local de trabalho... Fechamo-nos e achamos que se não é como nós queremos não há nada a fazer nem pela nossa vida e muito menos pelo mundo.

No Evangelho de hoje vemos como Jesus alerta os discípulos para a dificuldade que o povo tem em reconhecer João Batista, tal como teve em reconhecer Elias. Ao mesmo tempo, Jesus prevê que Ele próprio também não será reconhecido por muitos do seu povo.

Com isto, também nos alerta a nós! Deus continua a dar-se de muitas maneiras e, muitas vezes, a nossa prespetiva egoísta e egocêntrica não alcança o dom da Sua presença e ação na nossa vida.

Deus salva-nos fazendo-se homem, assumindo, aceitando e amando a nossa humanidade! Isso é perturbador pois nós quereríamos um Deus que resolvesse a nossa vida e os nossos problemas de outra maneira. Mas Deus apresenta-se pequeno, frágil, de carne e osso como nós! Nós gostaríamos de ser sempre fortes, ter soluções para tudo, gostaríamos que nunca nos acontecesse nada de mal, mas isso não é o que acontece nem na vida humana, nem na vida de Jesus, e por isso muitos não O reconhecem. E nós também temos dificuldade em reconhecê-Lo, principalmente quando chegam as dificuldades, quando o mal nos afeta, quando não temos solução para tudo... Temos dificuldade em reconhecer a Sua presença confortando-nos, escutando-nos, sofrendo connosco e dando-nos a força e o sentido que precisamos para continuar a caminhar.

Acredito verdadeiramente que é um Deus feito homem que nos pode salvar? Ou espero outras "soluções"?

A melhor forma de preparar o Natal é preparar-se para reconhecer que o Deus que nos visita vem de forma inesperada, imprevisível, surpreendente.... Não responde sempre como nós gostaríamos. Que este tempo aumente em nós o desejo de encontrar n'Ele o sentido para o que vivemos e para o que vivem os nossos irmãos.

DIA 16 DE DEZEMBRO - III DOMINGO DO ADVENTO - DOMINGO GAUDETE

Ser missionário é fundar a nossa vida na verdadeira alegria

Hoje celebramos na Igreja o Domingo Gaudete. A meio desta caminhada de advento, em que nos exercitamos na espera daquele que está para nascer, a sábia mãe Igreja vem propor-nos um exercício tão simples quanto difícil: alegrar-nos.

Na primeira leitura, o profeta Sofonias dirige este convite a Jerusalém:

"Clama jubilosamente, filha de Sião; solta brados de alegria, Israel. Exulta, rejubila de todo o coração, filha de Jerusalém".

Mas... porque se há-de alegrar Jerusalém se a sua história está cheia de incidentes, de infidelidades e adversidades? O profeta é claro: alegra-te Jerusalém, alegra-te não porque tudo te corre bem, não porque a tua história é perfeita e exemplar, alegra-te sim porque apesar das contrariedades do teu caminho, "o Senhor teu Deus está no meio de ti, como poderoso salvador".

O salmo deste dia insiste de novo neste mandato:

"Exultai de alegria, porque é grande no meio de vós o Santo de Israel".

Também o apóstolo São Paulo se dirige à comunidade de Filipo insistindo neste mandamento da alegria:

"Irmãos: Alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos. Seja de todos conhecida a vossa bondade. O Senhor está próximo".

Este mandato da alegria é ao mesmo tempo interessante e estranho, porque nós sabemos que alegrar-nos é algo difícil e na maioria das vezes não depende só de nós. Claro que quereríamos estar alegres, mas a vida por vezes impõe-nos cargas, imprevistos e sofrimentos que superam as nossas forças. Quando parecia que tudo se ia resolver e finalmente íamos ter paz, aparece uma doença, um problema com um familiar, uma notícia mais triste, um parente que perde o emprego, um novo dilema que há que enfrentar. Como podemos então alegrar-nos se a vida está sempre atribulada e cheia de nós? Como podemos alegrar-nos se ainda estamos em advento, em espera, se a nossa vida ainda não se cumpriu como tínhamos imaginado?

Pois, aí é que entra a sabedoria da nossa mãe Igreja que nos vem recolocar na maior de todas as verdades. É certo que tudo ou quase tudo na nossa vida ainda está por resolver, ainda está em advento, mas mais certo do que tudo isso é que nós temos um grande motivo para nos alegrarmos e é este: Deus está connosco no meio do acidentado e provisório da nossa vida. Deus não espera que estejamos prontos, Deus não espera que a nossa vida se arranje e se organize para depois poder entrar. Não, Deus já está no meio de nós. Podemos alegrar-nos porque Deus, o Emanuel, já está connosco. Deus vem à nossa vida como ela está. Eu não estou sozinho. Humanamente até me posso sentir desamparado e abandonado, mas se os meus olhos se abrirem verdadeiramente, poderei reconhecer a presença e companhia do Senhor que está próximo.

É urgente como cristãos descobrirmos a verdadeira razão da alegria e fundarmos a nossa vida nesta presença, nesta Aliança de Deus connosco. Mais ainda neste tempo de preparação do Natal, onde paradoxalmente acabamos reféns da tristeza, assaltados por tantas preparações, compras, ocupações e tarefas a fazer...

Senhor, não me deixes perder-me no meio dos preparativos e correrias que se avizinham. Abre meus olhos para te reconhecer e fundar em Ti a minha vida. Faz de mim um missionário da Tua alegria.

DIA 17 DE DEZEMBRO

Ser missionário é narrar a própria história como história de salvação

O Evangelho de hoje apresenta a genealogia de Jesus. S. Mateus conta a Sua história discorrendo uma sucessão de 46 nomes diferentes. São linhas atrás de linhas e, perante esta leitura, até pode ser que nos cansemos, que nos pareça demasiado longa, rotineira e monótona.

Não poderá ser que isso seja um espelho da nossa vida de todos os dias?

Olhamos a nossa família, olhamos a nossa história, os nossos "vai e vem's", os nossos dias cheios de altos e baixos, e à primeira vista é difícil acreditar que existam muitas semelhanças entre nós e a nossa história e Jesus e a Sua. Porém, desde Abraão até Jesus acontece de tudo. Não falamos apenas de heróis da fé mas também de pessoas que não alcançaram nenhum lugar de relevo nas Escrituras, e outras ainda de quem aquilo que se conhece não é exatamente o melhor dos exemplos, bem pelo contrário.

A narrativa histórica de há milhares de anos pode também falar de um agora, quando nos descobrimos donos de uma história que Deus deseja habitar. Aí, onde não encontramos "nada de especial", Deus faz-se acontecer. A nossa sucessão cronológica é, à semelhança da linhagem de Cristo, um espaço de salvação que é espaço comum onde cabem muitos.

"Ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem" (GE 6). É por isso importante que nos continuemos a dar conta dos pontos que nos unem, de tantos que passam pela nossa vida escrevendo parte da nossa história. É importante descobrirmos a "santidade ao pé da porta" de que fala o Papa Francisco - "a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir" (GE 7).

O Evangelista começa e termina pela pessoa de Jesus. Que bom que possamos começar e terminar com um sinal de que o Senhor quer habitar toda a história em todas as horas e circunstâncias.

Anunciar a Boa nova não é fazer grandes discursos mas pode ser um simples contar como a nossa história é habitada pelo Senhor.

DIA 18 DE DEZEMBRO

Ser missionário é ser ousado e corajoso

A S.José, as contas não lhe saíram exatamente como ele tinha pensado. Pensava que ia assumir a missão de ser esposo e pai, mas não imaginava que o Senhor lhe confiaria a missão de ser pai legal de Jesus, de cuidar daquele que salvaria a humanidade. Assumir ser pai de um filho que não é seu, mas que lhe é confiado e a quem lhe é pedido que lhe dê o nome, assumir cuidá-Lo e fazê-Lo crescer até à maturidade é um ato de grande coragem!

E a nós, muitas vezes também não nos saem as contas! É um imprevisto que acontece, um novo desafio, uma doença que chega, uma mudança no trabalho, uma pessoa que parte... e sentimos que a vida nos pede mais do que aquilo que esperávamos. E para assumir e agarrar a vida tal como ela é, é preciso coragem.

José escuta a voz que desde dentro o leva a não ficar paralisado pelo medo, mas que lhe dá o impulso para partir e servir o Seu Deus. E Se hoje escutássemos também esse "Não temas" que precisamos para partir e pôr-nos ao serviço de uma humanidade que espera a manifestação de Deus?

A coragem e ousadia que os apóstolos precisaram para anunciar Jesus no meio das contrariedades da vida chama-se "parresia". José é um homem silencioso e não conhecemos nenhuma palavra sua, mas a sua vida fala e anuncia que vale a pena escutar e obedecer a Deus, mesmo sem entender tudo, mesmo sem saber onde nos vai levar. Essa obediência deu espaço e abriu o caminho para que Deus se fizesse presente no meio de nós e o pudéssemos descobrir "Deus connosco".

Peçamos ao Espírito Santo que nos dê a coragem para ter gestos, atitudes, palavras que irrompam e façam surgir uma realidade nova, que façam sentir que Deus está no meio de nós.

DIA 19 DE DEZEMBRO

Ser missionário é anunciar o que se escuta e se acolhe

A liturgia de hoje apresenta-nos duas figuras a quem Deus anuncia algo que aos olhos humanos parece impossível. Na primeira leitura, trata-se da esposa de Manoé, que era estéril e, no Evangelho, Zacarias de idade avançada e esposo de Isabel, que também era estéril.

O anjo aparece à esposa de Manoé e anuncia que ela terá um filho, apesar de ser estéril. Ela acreditou e foi dizer ao marido tudo o que tinha acontecido.

Em resposta a esta leitura escutamos no salmo: " A minha boca cantará a vossa glória. (...) Meu Deus, hei-de narrar os vossos feitos grandiosos,/ recordarei, Senhor, a vossa justiça sem igual./ Desde a juventude Vós me ensinais e até hoje anunciei sempre os vossos prodígios".

Aquela mulher bem podia cantar e agradecer esta grande graça de Deus!

E nós, chamados a ser missionários no meio de tanta "esterilidade" do nosso mundo, precisamos de reavivar a nossa fé, para que a voz de Deus ressoe e nos leve a acolher as possibilidades que Ele vê em cada ser humano. Se reconhecermos a Sua presença na nossa vida, a Sua acção que tantas vezes faz o que nos parecia impossível ou sem saída, também nós seremos capazes de anunciar as graças que recebemos de Deus.

No Evangelho de São Lucas, é a Zacarias a quem lhe aparece o anjo do Senhor, para lhe comunicar outra boa notícia: "Não temas! A tua súplica foi atendida, Isabel dar-te-á um filho". No entanto, Zacarias duvidou, olhou para si mesmo, certamente pensou na sua esposa Isabel, e não quis acreditar: "Como hei de saber que é assim, se eu estou velho e a minha esposa é de idade avançada?".

Quantas vezes olhamos para nós próprios, para as desilusões que sofremos na vida, e custa-nos acreditar que Deus responderá às nossas preces!

Escutamos o que Deus nos diz, olhamos para nós próprios, para tudo o que já vivemos, e parece que não faz sentido. Como poderei ser capaz?

- "Como posso ser capaz de perdoar àquela pessoa que me fez tanto mal?"

- "Como pode Deus estar a contar comigo, eu que já fiz tanta asneira na minha vida?"

- "Como posso aproximar-me daquela pessoa, depois de tudo o que fiz no passado?"

- "Já vi muita coisa neste mundo e perdi a esperança. Agora vem Deus dizer que responde à minha prece, que conta comigo, e que de mim vai surgir alguém que vai tornar o mundo melhor?"

Zacarias não quis acreditar que fosse possível. Custava-lhe entender e era pouca a sua fé. Isso fê-lo ficar em silêncio, incapaz de anunciar o que Deus lhe tinha prometido. Muitas vezes não anunciamos mais porque na realidade não acreditamos no que Deus pode fazer por nós!

Mas Deus cumpriu a sua promessa! E só quando Zacarias viu acontecer o que lhe tinha sido dito, só depois de nascer João Baptista, é que pôde falar e anunciar. E canta um cântico bendizendo a Deus!

Se calhar também nós precisamos que Deus nos aumente a fé, que Deus faça caminho connosco desde a nossa pouca fé até vermos a promessa cumprida, a tal ponto de a podermos anunciar: "Realmente Deus fez maravilhas na minha vida!"

Peçamos a Nossa Senhora que nos ensine a acolher a promessa de Deus, que nos contagie com a sua fé, que nos contagie com o seu SIM, e que tal como ela possamos anunciar as maravilhas de Deus na nossa vida.

DIA 20 DE DEZEMBRO

Ser missionário é viver a vida como missão!

O evangelho de hoje apresenta-nos Maria como exemplo e modelo da nossa fé. É a ela que o Anjo Gabriel anuncia a mais bela das notícias: «Alegra-te cheia de graça, o Senhor está contigo!».

Que graça tão grande é esta: o Senhor Deus do Universo quer estar contigo!

Como reagiria eu se o Anjo me dissesse «o Senhor está contigo»?

Maria ficou perturbada com estas palavras. Quem não ficaria?

E o anjo continuou: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim».

Que missão tão grandiosa o Senhor confiou a Maria! Ela acreditou, mas não teve receio de perguntar "Como será isto? Como será possível isto acontecer se eu não conheço homem?".

Certamente terá pensado: "Como pode o Senhor dar-me uma missão tão grande? Sozinha não a poderei levar a cabo!".

Mas o anjo explicou: "O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus".

É o Espírito Santo que realiza a missão em Maria, é o Espírito Santo que a torna mãe! O Anjo revela a Maria qual a sua missão, e Maria acredita, Maria confia!

Maria é para nós exemplo de fé e de confiança. Mesmo sem perceber como iria ser o futuro, mesmo receando ter problemas com José, seu futuro esposo, Maria acredita na promessa de Deus e encarna esta missão de ser mãe do Messias, mãe do Salvador.

E desde o primeiro dia diz um sim a Deus, com todas as dificuldades que teria pela frente: fugir para o Egipto, regressar, seguir o seu Filho até à cruz, viver desde a confiança.

Tal como a Maria, Deus também nos pede que sejamos uma missão nesta terra, como nos recorda o Santo Padre: «O facto de nos encontrarmos neste mundo sem ser por nossa decisão faz-nos intuir que há uma iniciativa que nos antecede e faz existir. Cada um de nós é chamado a refletir sobre esta realidade: «Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo» (Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 273).

Qual a minha missão? Pergunto a Deus que missão Ele quer realizar com a minha vida? Que missão queres que eu seja, Senhor?

Talvez eu não compreenda bem agora qual é a minha missão (de padre, de religiosa, de pai de família, de mãe, de avó), mas será que acredito que o Espírito Santo a realizará? Acredito que Deus fará o que para mim parece impossível?

Certamente Maria, ao escutar o Anjo Gabriel, não compreendia totalmente a sua missão nem o que significava ser mãe do Filho de Deus, mas acreditou, e deixou que Deus atuasse nela. Mantendo uma atitude de escuta e oração, foi deixando que Deus lhe indicasse dia a dia como ser a mãe do Salvador. A sua missão não terminou quando Jesus cresceu, nem quando Jesus começou a sua vida pública indo de terra em terra anunciar a Boa Nova e curar os doentes. A sua missão chegou até à cruz, quando Jesus lhe pede que seja mãe do discípulo amado: "Mulher, eis o teu filho!".

Maria fez da sua vida uma missão. E eu?

DIA 21 DE DEZEMBRO

Ser missionário é estar com os outros e ser para os outros

Nesta caminhada para o Natal, é bom caminhar em comunidade.

As leituras deste dia colocam-nos diante de um convite profundo: fazer da nossa vida uma vida em saída, uma vida disposta a pôr-se em caminho, uma vida com vontade de levantar-se para reconhecer o Senhor que está no meio da realidade, que está no meio da vida, que está e habita nos outros, nos meus irmãos.

O Senhor convida-nos a esperá-Lo pondo-nos em caminho. Hoje, somos chamados a sair da nossa casa, do nosso cantinho que pode ser o nosso quarto, a nossa cozinha, a nossa igreja, os nossos pensamentos, os nossos sentimentos para buscá-Lo a Ele, para O encontrar e nos deixarmos encontrar por Ele.

O Evangelista Lucas põe-nos diante de Maria como modelo do nosso ser missionário neste Natal. Depois do anúncio do anjo Gabriel, o primeiro gesto de Maria é sair de si própria, é sair da sua casa, do seu conforto, dos seus sentimentos e fazer da sua vida encontro, visita, serviço, dom e alegria para Isabel, para Zacarias e para João Batista, que ainda estava no seio de Isabel.

A nossa primeira missão neste tempo de advento é amar, é sair de nós próprios e fazer da nossa vida lugar de encontro, uma vida disponível para que Deus nasça, cresça, habite. Essa missão de ser homens e mulheres que arriscam amar, que arriscam fazer da sua vida dom e serviço, implica percorrer um caminho montanhoso, um caminho de conversão, um caminho que não é simples.

Sair implica alargar as nossas visões, alargar os nossos critérios, os nossos valores. Sair ajuda-nos a ser mais humanos, mais solidários com os nossos irmãos. Peçamos a Nossa Senhora força e coragem para percorrer os caminhos montanhosos que neste advento o Senhor nos propõe caminhar junto d'Ele. Que neste dia façamos carne a Palavra do Senhor e saiamos para visitar alguém que precise de esperança, de fé e de amor. Saiamos hoje para as ruas, para as praças, para os hospitais, para os centros comerciais para visitar como a nossa Mãe aqueles que precisam de alegria, de companhia, de esperança e amor.

DIA 22 DE DEZEMBRO

Ser missionário é brilhar por ser pobre de meios e rico no amor.

Em Fátima, por ocasião do centenário das aparições, o Papa Francisco convidou-nos "a descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor"[2].

Maria, imagem da Igreja que estamos chamados a ser, é-nos hoje apresentada pelo Evangelho como uma mulher que brilha porque reflete na sua vida as maravilhas de Deus. No seu Magnificat, canta ao Deus que pôs o Seu olhar na sua pequenez e a fez bela. Maria alegra-se e sabe que a sua vida brilha porque é Deus que a faz brilhar.

Maria brilha porque é missionária, é acolhedora, é livre para dizer o seu sim, é fiel, é pobre de meios e é rica no amor.

Quando é que a nossa vida brilha?

Quando ficamos bem diante dos outros? Quando dizem bem de nós? Quando sentimos que somos capazes de alguma coisa? Quando não nos criticam? Quando agradamos a todos para não arranjar problemas? Quando temos muitos meios e estruturas que dão nas vistas? Quando somos melhor que os outros?

Ou será que, como Maria, a nossa beleza, o nosso brilho, o nosso tesouro vem de ser ricos no amor, de ser livres para ser nós próprios e tomar opções segundo o Evangelho? Será que o nosso brilho vem de ser pobres e famintos, deixando que seja Deus a encher-nos de bens?

Maria é simples, de condição humilde, pobre de meios mas rica no amor e cheia de ternura para acolher o Salvador!

Não tenhamos medo de reconhecer a nossa pobreza, a nossa fragilidade, o que não sabemos e não nos sai bem. Temos uma tendência enorme a esconder tudo isso e a justificar-nos, mas Deus continua a vir à nossa procura e a querer encontrar-nos aí onde estamos, com os nossos fracassos e as nossas vitórias, com as nossas quedas e os nossos passos bem dados. Também como Igreja, temos de reconhecer que nem sempre fazemos tudo bem, que há opções mal tomadas e a corrigir, que há pedidos de desculpa a fazer, que temos muitos meios mas às vezes falta-nos o essencial que é o amor. O que estamos chamados a testemunhar é que «somos frágeis, mas portadores de um tesouro que nos faz grandes e pode tornar melhores e mais felizes aqueles que o recebem» (GE 131). Podemos não ter histórias espetaculares para contar, nem grandes obras para mostrar, nem grandes eventos organizados, mas o que nos temos que questionar é se estamos a amar como as pessoas precisam, se estamos a transmitir o essencial que é o tesouro do Amor de Deus a cada pessoa, se estamos a acolher todos, tal como Jesus o fez durante toda a sua vida.

Como nos diz a Evangelli Gaudium, "Maria é aquela que sabe transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns po­bres paninhos e uma montanha de ternura. Ela é a serva humilde do Pai, que transborda de alegria no louvor" (EG 286). Aprendamos com ela a transformar os nossos ambientes com o pouco que temos e "uma montanha de ternura"!

DIA 23 DE DEZEMBRO

Ser missionário é visitar e ser visitado

O verbo por excelência que marca o tempo de Advento é o verbo esperar. Esperar é vivermos alimentados por uma confiança, uma esperança de que algo vai acontecer, de que alguma coisa o Senhor vai fazer. Isso põe-nos numa atitude de atenção, de expectativa e de agradecimento.

Estamos quase a celebrar o Natal, e talvez a nossa maior tentação nestes últimos dias é perder-nos no externo, nos pendentes, nos afazeres que povoam estes dias, nos preparativos para a noite de amanhã e para o dia de Natal. Peçamos ao Senhor a graça de não perder o ritmo de busca, de silêncio, de oração, de contemplação, de vigilância, de atenção, para O receber e acolher neste Natal.

Hoje, novamente, a Palavra que escutamos é um convite a levantar-nos para continuar em caminho, em assombro pela vinda do Senhor. Reconhecer que o Senhor está perto muda a nossa maneira de olhar para a nossa vida. Damo-nos conta de que já somos muito amados. Somos afortunados por ter um Deus que não só nos visita uma vez ao ano, mas que nos visita continuamente de uma forma que é sempre nova. E visita-nos porque nos ama. Que bom é escutar esta expressão, esta verdade! Ele ama-nos porque sim, ama a nossa pequenez, o nosso ser inacabado, para que também nós possamos aceitar a nossa pequenez, a nossa condição frágil.

Na Sua visita, o Senhor sabe estar, dar e entregar-Se. O Senhor gasta tempo connosco, não tem pressa. Deste modo, ensina-nos a visitar, ensina-nos a estar, a gastar tempo com os outros, com a nossa família, com os nossos pais, com os nossos filhos, com os nossos colegas. Aprendamos a ser para os outros presença de Deus, presença daquele que nos ama gratuitamente.

Oxalá no dia de hoje possamos fazer nossas as palavras de Isabel e os gestos da nossa Mãe Maria! Que o Amor que Deus nos tem nos encha de alegria e que a Sua visita nos ponha também em caminho.

Abreviaturas:

EG - Evangelii gaudium

GE - Gaudete et exsultate


[1] Cf. Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa para o Ano Missionário e o Mês Missionário Extraordinário,1.

[2] Peregrinação do Papa Francisco ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima por ocasião do centenário das aparições da bem-aventurada virgem maria na cova da iria (12-13 de maio de 2017)