Cumprimentos de Natal 2022

30-12-2022

CUMPRIMENTOS DE NATAL

Igreja do Colégio, 29 de dezembro de 2022


"Para mim, viver é Cristo" (Filp 1,21)

1. Quero começar por agradecer a presença de todos, neste momento tão significativo das celebrações do Natal na nossa Diocese. Sabemos que todos desejamos Santo Natal e Boas Festas uns aos outros - certamente, muitos já o fizeram individualmente entre si - mas é importante também fazê-lo como membros responsáveis e conscientes de uma Igreja Diocesana.

Por mim, não posso deixar de agradecer todas as manifestações de amizade (e mesmo de carinho), escritas ou de viva voz, com que me vi rodeado ao longo desta quadra natalícia, muitas das quais não tive oportunidade de agradecer devidamente. É, de verdade, uma riqueza poder partilhar a vida da fé com tantos, com todos os diocesanos do Funchal. É uma riqueza sermos uns para os outros o rosto da alegria do Natal, e poder receber de todos o testemunho crente.

Mas, para além destes sinais festivos próprios do Natal, agradeço-vos, sobretudo, o caminho que vamos realizando no quotidiano (caminho árduo, lento por vezes, e não raro difícil) - caminho daquele dia-a-dia em que, sem motivos especiais de celebração, a generosidade e o testemunho, o trabalho e o empenho na obra evangelizadora, aparecem como atitude que brota de uma paixão pelo Evangelho.

2. Esta apresentação mútua de cumprimentos natalícios é também sempre uma oportunidade para podermos tomar consciência de alguns desafios que o momento presente nos coloca e de tomarmos consciência de algumas dimensões que poderão ser melhoradas e às quais devemos dar atenção, a fim de nos entreajudarmos a melhor caminhar como Igreja nesta nossa Diocese do Funchal. Deixai que hoje sublinhe apenas uma: a "paixão" que marca a vida cristã quando ela procura corresponder ao convite do Senhor.

Esta audácia, esta "paixão" por tornar presente o Evangelho vem-nos de termos um dia encontrado a pessoa de Jesus no caminho da nossa vida. Encontrámos este Jesus seja no berço (ou mesmo no seio da nossa mãe); ou encontrámo-lo quando jovens ou, apenas, enquanto adultos. Mas esse encontro com Jesus, que nos permite hoje dirigirmo-nos a Ele e dizer-lhe "Tu", abrindo o coração ao Ressuscitado, esse encontro marca a nossa vida para sempre e de um modo essencial - muito mais que as nossas outras referências presentes no Cartão de Cidadão. Marca a nossa vida como marcou definitivamente a vida de S. Paulo e o fez correr a anunciar a Boa Nova pelo mundo conhecido de então, e de tantos outros, em particular dos santos que nos precederam, e de uma verdadeira multidão incontável de cristãos.

Sem esta paixão, não é possível uma verdadeira vida cristã: torna-se impossível ser discípulo do Senhor; torna-se impossível a verdadeira conversão; torna-se impossível a caridade; torna-se impossível a evangelização.

Com efeito, sem esta paixão, sem este enamoramento, não é possível seguir Jesus: "Se alguém me segue e não me tem mais amor que ao seu pai, à sua mãe, à sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo" (Lc 14,26). Como podemos segui-Lo, entregando-nos totalmente, olhando e vivendo tudo com o olhar e com o coração de Jesus, se uma parte do nosso existir tem reservas a essa entrega? Sem estarmos enamorados de Jesus nunca seremos capazes de deixar tudo para O seguir.

Sem este enamoramento não há sequer liturgia cristã. A nossa oração fica reduzida a um "sentir-se bem", um conjunto de sentimentos que nos adormecem, incapacitando a verdadeira conversão, ou a um conjunto de ritos repetidos maquinalmente. O louvor a Deus, a oração, resume-se, nesse caso, a um auto-louvor, condescendente e auto-justificador.

Sem o enamoramento de Jesus não há caridade. O outro fica reduzido a alguém de quem tenho pena e que torno facilmente num objecto para que eu possa praticar o bem. O outro deixa de ser alguém que Deus ama apaixonadamente e por quem Ele se fez homem e se entregou na cruz: apenas amando com o coração de Jesus sou capaz de verdadeira caridade.

Sem o enamoramento de Jesus, não há evangelização. Como vamos transmitir algo de essencial para a vida de outros se nós próprios não o vivemos como essencial? A vida cristã fica reduzida a um repetir de ritos sem sentido; o anúncio do Evangelho reduzido à repetição de categorias intelectuais que não convencem; a Igreja reduzida a uma instituição velha, que precisa de se adaptar ao mundo e às suas regras.

3. O ano que se aproxima traz consigo vários desafios para os quais não podemos deixar de nos preparar. O maior deles é, sem dúvida, as Jornadas Mundiais da Juventude que o Papa Francisco convocou para Lisboa, no início de Agosto.

Na semana anterior, também nós iremos receber peregrinos vindos de várias partes do mundo. Precisamos de nos mobilizar, e (sobretudo) de nos dispormos a acolher todos esses jovens que nos vão bater à porta como irmãos na fé e dando-lhes o testemunho de vida cristã.

Que Deus disponha os nossos corações para O acolhermos sem reservas; para nos deixarmos encontrar por Ele e por Ele orientar o nosso existir. Que Ele nos ajude a acolher todos estes jovens que vêm até nós; e para irmos também, em maior número possível, a Lisboa, ao encontro desta verdadeira multidão que manifesta Cristo vivo, presente no meio da Igreja e do mundo, presente no meio da história.

Votos de um bom ano de 2023 para todos.