A linha do coração

07-04-2020

Judas é das figurantes mais intrigantes e misteriosas dos evangelhos. Escolhido por Jesus como todos os demais discípulos; homem de confiança responsável pela bolsa comum que garantia a sobrevivência de todos, Judas vive o drama de um Jesus que não corresponde às suas expectativas. Traiu o Senhor e, sobretudo, acabou por recusar ser perdoado pro Ele.
Facilmente condenamos Judas, nós que nos consideramos justos e que queremos terminar com a iniquidade à face da terra. E não apenas Judas, mas tantos outros do nosso tempo, tenham eles saído ou não do nosso grupo.
Li, há dias, um pensamento de Aleksandr Solzenicyn, pensador russo, vítima do sistema comunista: "Se fosse assim simples! Se, de um lado, existissem os homens maus que maldosamente fazem obras más, e bastasse distingui-los dos outros e destrui-los! Mas a linha que separa o bem do mal atravessa o coração de cada um de nós!".
No coração de cada um de nós existe um Judas, em potência ou (sabe Deus) mesmo em acção. É o mistério do mal que nos marca a todos em cada dia que passa, e que nos impede julgamentos (fáceis ou difíceis).
Restaurar e reconduzir são as tarefas do Servo de Javé. São também a missão de Jesus. E são a nossa missão. Mais que condenar, restaurar e reconduzir!