Síntese final das respostas ao Sínodo

21-06-2022

I

Descrição do processo sinodal na Diocese do Funchal

O processo de recolha das respostas à questão fundamental proposta pelo Documento Preparatório na Diocese do Funchal seguiu o seguinte caminho: constituída a equipa para a consulta sinodal e homologada pelo Bispo diocesano, a equipa fez um estudo do já referido documento e do Vademecum, bem como de outros estudos publicados sobre a sinodalidade. Definiu a periodicidade duma reunião mensal para a etapa de trabalho, reflexão e oração. Preparou um documento como instrumento de trabalho com algumas pistas de reflexão e as questões a responder, um texto que foi enviado aos arciprestes, aos Párocos, às Congregações religiosas, às Igrejas cristãs, secretariados, movimentos, IPSSs, estruturas de comunhão diocesanas, entre outras entidades e instituições de cariz cristão ou não. Criou um formulário no google forms, uma página de facebook e um endereço eletrónico. No site da Diocese, foi colocado um link «Sínodo na Diocese» com informações e documentos sobre o Sínodo, possibilitando a sua consulta e utilização.

A equipa percorreu os sete arciprestados da Diocese promovendo encontros de sensibilização e de formação sobre a sinodalidade, com espaços de partilha e de reflexão sobre as questões sinodais. Realizou uma assembleia do clero; recolheu contributos dos trabalhos de grupo na Jornada diocesana do apostolado dos leigos; promoveu uma mesa redonda sobre o tema: «Que participação na Igreja? O nosso contributo para o Sínodo dos bispos».

Os contributos foram chegando das mais variadas realidades eclesiais e pelos diversos meios disponibilizados. O maior número de respostas veio dos trabalhos de grupo dos encontros arciprestais, assembleias e encontros pastorais diocesanos. Salienta-se alguma indiferença ao processo de consulta por parte de instituições e pessoas da sociedade civil. Depois de recolhidos todos os contributos, a equipa sinodal fez uma leitura, em espírito de oração, de todas as respostas e destacou as ideias chave que são apresentadas neste documento.

A abertura a esta modalidade de maior escuta, participação e comunhão na Igreja foi apreciada de forma positiva como momento importante para a Igreja atual. Neste processo de consulta sinodal na Diocese do Funchal envolveram-se cerca de 50 grupos, o que implicou a participação de, aproximadamente, 1500 diocesanos.

O resultado deste contributo diocesano, para além de ser enviado à Conferência Episcopal portuguesa, foi apresentado, em síntese, numa assembleia representativa da Diocese que decorreu na Igreja do Colégio, no Funchal, a 16 de junho, dia da Solenidade do Corpo de Deus. Esta mesma síntese será publicada no site da Diocese.


II

Síntese das respostas à consulta sinodal na Diocese do Funchal


Os participantes nesta consulta sinodal mostraram-se interessados em dar o seu contributo para uma melhor compreensão e vivência da missão da Igreja em que se sentem também empenhados de várias formas, desde o compromisso com a vida paroquial, aos diferentes movimentos e grupos de Igreja, à vida religiosa e consagrada. Nos diversos encontros organizados para dar a conhecer esta temática do próximo sínodo e da sinodalidade da Igreja, assim como para escutar o que cada um tem para partilhar sobre esta realidade, tivemos a experiência de que uma forma de comunhão se exprimia e se partilhava através das preocupações comuns, dos desafios lançados pela atualidade da vida da Igreja e do mundo, das oportunidades e também das dificuldades da sua missão hoje. Experimentámos um sentir comum através duma diversidade de vivências, iniciativas, pontos de vista, num desejo partilhado de ser uma Igreja mais fiel a Jesus Cristo e mais próxima de todos, a começar por aqueles que estão mais afastados da prática da fé, os que vivem em situações desumanas ou são estigmatizados e excluídos pelas suas escolhas. Recolhemos a aspiração dos participantes a que esta vida sinodal da Igreja não seja puramente pontual e formal, mas possa crescer com a existência de mais lugares de debate e de partilha, de procura em comum, tendo em vista iniciativas concretas de evangelização e de busca duma humanidade mais digna para todos.

Porque o essencial na Igreja é realmente ser testemunha de Jesus Cristo, Ele que é em pessoa o Evangelho, o nosso caminho e a nossa meta, esse testemunho passa pela escolha de ser Igreja. Ora, como foi dito: «Ser Igreja é fazer a diferença no caminho do outro» e esta diferença é inclusiva: «A Igreja é de todos e para todos». Por isso, o acolhimento surge aqui como uma dimensão da Igreja a ser cuidada nos mais diversos âmbitos o que implica uma forma de hospitalidade a ser mais desenvolvida não só relativamente aos que estão mais afastados, mas também aos mais comprometidos na ação da Igreja.

Percebemos, com maior clareza, que já caminhamos juntos e que a Igreja é a casa deste nosso caminhar organizado: Conselhos pastorais e económicos já existentes nalgumas Paróquias em coordenação com a ação do Pároco, catequese paroquial, catequistas e famílias dos jovens e crianças, grupos de acolhimento (preparação para batismo e inscrição na catequese), assembleias paroquiais, coros, grupos de leitores e de ornamentação da Igreja, ministros da comunhão com visitas regulares aos doentes, visitas pascais, grupos de ajuda aos mais carenciados (Caritas, S. Vicente de Paulo, ajuda aos sem abrigo), Confrarias, movimentos de espiritualidade e vida cristã, grupos bíblicos, grupos de oração, grupos de jovens, escuteiros, secretariados e outras estruturas diocesanas, vida consagrada, escolas católicas, instituições de solidariedade social.


1 - Acolhimento, atenção e capacidade de escuta

A capacidade de acolhimento representa um estilo de vida cristã que há-de ser ainda mais melhorado. Como foi dito, há que estimular uma «maior cultura do acolhimento», «valorizar a escuta ativa e permanente de todos os batizados», em especial dos jovens e famílias, saber das razões dos que vivem a fé sem compromisso paroquial e participação na Eucaristia, dos que, embora batizados, se afastaram por razões pessoais. Há uma dívida de escuta e estereótipos duma Igreja apenas de alguns, «os que satisfazem o padrão do cristão». O acolhimento visa criar «um espaço de liberdade», sem medo das críticas.

Para isso, alguns participantes na consulta sinodal destacaram a importância de formar equipas de acolhimento, por exemplo, na catequese ou na preparação dos sacramentos. Que sejam as famílias a acolher e implicar outras famílias, no início e na própria celebração da Eucaristia, na preparação para o batismo ou para o crisma. Outros momentos de oração precisavam de mais envolvimento das famílias.

Constatou-se como é importante vencer os preconceitos que afastam os mais velhos do encontro com as gerações mais jovens, a começar dentro das estruturas paroquiais e dos movimentos onde, com frequência, são os mesmos que fazem tudo e vão envelhecendo nos hábitos e rotinas criados: «A integração pode e deve ter mais força na Igreja como casa de acolhimento». Há muita tendência para os grupos paroquiais se fecharem nas suas atividades e celebrações, em vez de procurarem entre si tempos de encontro e de partilha. O acolhimento tenderia a melhorar as formas de voluntariado e de participação para que se renovem as responsabilidades dentro dos vários grupos e não aconteça que nas direções dos movimentos, confrarias e outros grupos cristãos se deixe de fazer a renovação periódica de mandatos.

O esforço por um maior acolhimento é um trabalho longo mas determinante. Implica nas paróquias disponibilidade de tempo do Pároco com os paroquianos, o que é por vezes mais difícil quando há trabalho em várias paróquias. A proximidade e o espírito de família, alimentados pela oração, na paróquia, movimento, comunidade religiosa, favorecem o acolhimento e a comunicação.

A ajuda e a escuta das pessoas que vivem momentos difíceis na vida, crises familiares e profissionais supõe um acompanhamento personalizado. Aumentam as novas formas de pobreza que, para além de material, é também espiritual. A escuta e acompanhamento requerem mais tempo, mas dão mais fruto.

Acolher e humanizar são atitudes que se complementam, mas isso requer formação e qualificação, a todos os níveis do testemunho cristão. Não se deve esquecer especialmente a dimensão espiritual do «cuidar», o que implica, por exemplo, na área da saúde, um verdadeiro trabalho em equipa entre voluntários e profissionais de saúde.


2 - Participação, comunicação e encontro

A capacidade de diálogo é um testemunho relevante pedido aos cristãos hoje. Foi sugerida entre o clero uma comunicação mais aberta e mais ampla, com maior motivação e participação, maior interação, o que implica conversão pessoal. Notou-se alguma falta de cooperação, o que tem consequências a nível da organização, coordenação e divulgação de atividades. A cooperação não se deve limitar a atos administrativos. Também se insistiu num maior envolvimento e apoio do clero aos novos movimentos.

Os leigos, por sua vez, são chamados a se empenharem no âmbito da sua responsabilidade fundada no batismo com os seus diferentes dons, quer ao nível da relação entre paróquias e movimentos, quer ao nível inter-paroquial nas formações e celebrações conjuntas e mesmo no plano diocesano, melhorando as parcerias e redes de comunicação entre os diversos grupos - secretariados e movimentos.

Na paróquia, considerou-se que uma forma de participação mais ampla se exerce através do conselho pastoral. Criar um conselho pastoral juntamente com o conselho económico permite um trabalho de discernimento conjunto que deixa o Pároco com maior disponibilidade para o seu ministério de escuta e envolve mais os diversos grupos, movimentos e famílias. Além disso, o conselho económico permite maior verdade na apresentação das contas à comunidade paroquial. Isso não exclui, quando parecer oportuno, a realização de assembleias paroquiais mais amplas como forma de escutar todos os que colaboram na comunidade.

Em geral, os tempos de encontro paroquial, retiros, tempos de oração, convívios, peregrinações são importantes para recuperar a unidade e vencer as críticas recorrentes por rivalidades e falta de compreensão do que os outros fazem. Há que pôr de parte toda a forma de protagonismo, saber aceitar e escutar a opinião de todos. Importa que não nos deixemos contagiar com o mal que vem dos outros, mas que contagiemos o outro com o bem que possa sair de nós. Algumas tradições presentes na religiosidade popular, as visitas pascais por exemplo, são momentos não só de festa, mas também de encontro e de diálogo que permitem um maior conhecimento das famílias. Devem continuar a ser mais valorizadas de modo a despertar um maior sentido de pertença à Paróquia.

No campo da catequese, do anúncio e do testemunho tem-se constatado o progressivo afastamento das famílias, sobretudo das mais jovens, assim como dos jovens após o crisma. Muitos pais entendem a catequese como uma instrução religiosa, mas cada vez mais sem participação efetiva nos sacramentos e na vida paroquial. Foi, por isso, sublinhada a relação pessoal entre os catequistas e os pais, as reuniões de pais, os encontros de formação para as famílias e as iniciativas de participação das famílias nas atividades paroquiais. Há que promover um são entendimento e bom senso para evitar sobreposições entre a catequese e outras atividades de natureza cultural e social.

A presença e ação da Igreja no mundo da comunicação generalizada que marca os nossos dias é um grande desafio. Duma forma transversal, os meios de comunicação digital constituem uma oportunidade a explorar com discernimento evitando o individualismo e promovendo o encontro. Já se procura elucidar e divulgar, mas são precisos mais comunicadores bem preparados para esclarecer a opinião pública no âmbito da fé e dos costumes e sobre as questões da atualidade.

As estruturas de apoio e de ajuda aos idosos e doentes, bem como às famílias mais pobres e aos sem abrigo existem nas paróquias e ao nível diocesano, mas há a desenvolver iniciativas de encontro e escuta dos cristãos sem prática religiosa, dos recasados e discriminados pela sua orientação sexual.

Quanto ao diálogo com as outras confissões cristãs e outras religiões observou-se que o relacionamento é casual, mas estabelecido com respeito. Permanece às vezes uma certa distância, embora se reconheça que a diferença dos outros seja fonte de crescimento pessoal e comunitário.


3 - Formação e vida espiritual em ordem à comunhão

Uma preocupação comum de todos os que participaram na consulta sinodal é a de continuar a insistir na formação e atualização dos membros do clero, dos leigos, em especial dos catequistas e dos que receberam uma missão de liderança na Paróquia ou na Diocese, uma formação orientada para a verdade do testemunho entre o que é anunciado e o que é vivido.

Sugeriu-se a importância da preparação e do cuidado das homilias de modo a que sejam simples, curtas, incisivas, com propostas para a vida do dia a dia e comprometedoras para que os cristãos que participam na Eucaristia possam receber dela o alimento para a vida. O espírito missionário e de serviço requer um constante aprofundamento espiritual de todos, de modo particular na formação dos seminaristas e na vida do clero. A falta de vocações ao ministério e à vida consagrada foi vista como uma preocupação premente.

O cuidado na preparação da liturgia, tanto da parte dos pastores como dos demais cristãos também está no centro da partilha sinodal. Há um trabalho constante que já se realiza e precisa de ser desenvolvido para conseguir a participação ativa de todos nas celebrações. Isso implica a preparação dos coros na escolha dos cânticos, dos leitores e acólitos, do próprio celebrante no modo significativo de celebrar. Foi dito que é importante implicar os jovens na preparação e celebração da liturgia, incentivando os grupos de jovens das Paróquias na animação da Eucaristia. Do mesmo modo, os grupos de oração e de Lectio Divina que se reúnem para meditar conjuntamente a Palavra de Deus contribuem da melhor forma para a participação na Eucaristia.

A catequese foi também objeto central de reflexão na partilha sobre a sinodalidade. Disse-se que é frequente observar um fosso entre a instrução na fé e a vivência da fé, que muitas famílias com filhos na catequese optaram pela instrução religiosa, mas esqueceram o testemunho, a fé vivida e fortalecida pela Eucaristia. Por isso, importava despertar o interesse duma formação cristã para adultos e implicar nela as famílias, valorizando, neste campo, a rubrica «Em família» dos catecismos. Seria bom incentivar mais a oração em família e os grupos de oração paroquiais. Além disso, os meios de comunicação digital apresentam novas possibilidades para chegar aos jovens e às famílias. Também foi sugerido organizar núcleos de reflexão e debate nas paróquias, por exemplo à volta dos documentos do magistério.


4 - Participação dos jovens e das suas famílias

Já foi referida a responsabilidade das famílias na educação dos seus filhos na fé. Muitos jovens mantêm-se à margem e desmotivados também por falta de testemunho das famílias. Disse-se que seria bom contar com a preparação das jornadas mundiais para a formação de grupos de jovens após o crisma, atribuir-lhes responsabilidades nos órgãos consultivos da paróquia, por exemplo no conselho pastoral, dar-lhes a conhecer a ação social e caritativa da Igreja de modo a suscitar neles o voluntariado, apostar nos meios de comunicação digital e nas redes sociais da internet, promover exposições, formação de coros, festivais que os confrontem com o Evangelho.


5 - Vida consagrada - hospitalidade e serviço

Os consagrados estão ligados a instituições de ensino, saúde, cuidados continuados e é aí que cumprem a sua missão. Às vezes, com o excesso de trabalho, correm o risco de não ter disponibilidade para o acolhimento e para a escuta. Verificou-se que o povo de Deus aprecia o trabalho dos consagrados na Igreja e na vida social, pelo seu testemunho de entrega ao Senhor, pela humildade, na opção pelos pobres e doentes. Eles renovam a sua escolha a seguir Jesus na prática da hospitalidade junto dos mais frágeis. O Espírito chama a uma atenção redobrada e sentido materno para acompanhar cada um e incluir a todos.


6 - Questões sociais, pastoral do cuidar

Os participantes na consulta sinodal observaram que a Igreja está aberta às questões sociais, mas pode continuar o caminho com melhor empenho. Quando se trata de dar testemunho do Evangelho, não há que temer a intervenção nas questões sociais. Na área da saúde, foi proposta uma atenção particular no campo da formação sobre a dimensão ética e espiritual do cuidar, tanto da parte dos profissionais de saúde como dos voluntários. Desejou-se uma maior comunicação entre profissionais de saúde e voluntários. As instituições de solidariedade social e as escolas ligadas à Igreja são chamadas a dar um testemunho sem equívoco na prática do cuidar, em particular os mais frágeis.


7 - Promoção da cultura, a arte e o património religioso na evangelização

A Igreja sempre foi promotora e criadora de cultura e não pode esquecer essa dimensão nos nossos dias. A arte cristã presente na nossa terra tem um valor educativo pelo seu simbolismo e pela sua capacidade em suscitar um espírito criativo adaptado ao nosso tempo. Há que preservar e dar a conhecer o património artístico, a beleza da arte cristã, a mais antiga e a contemporânea. O património devocional é um meio de comunicação importante quando está aliado ao desejo de compreender a religiosidade e a cultura locais. Atendendo também ao desenvolvimento do turismo na nossa terra, sugeriu-se a organização de roteiros turístico-religiosos e a reabilitação de parte do património edificado urbano, criando uma rede de alojamento vocacionado para a vertente turístico-religiosa.


8 - Religiosidade popular e expressão da fé

As expressões da religiosidade popular são numerosas na nossa Diocese. Verifica-se que há, a começar pelas próprias festas da catequese, uma separação entre estas celebrações festivas e a prática continuada da fé. As festas e procissões de padroeiros e de Nossa Senhora, procissões penitenciais e pascais, visitas pascais não podem ser apenas eventos pontuais, mas hão-de incluir uma dimensão mais clara de fidelidade e compromisso de vida cristã. As semanas da missão podem ajudar a isso, assim como a organização de peregrinações com espaço para gestos de anúncio e de vivência do Evangelho.


III

Visão da Igreja atual e propostas para caminhar juntos na Diocese do Funchal


O que nos parece importante hoje é avivar a esperança na fonte do Evangelho deixando que cada tempo seja uma travessia pascal de conversão porque o mundo, e nós mesmos, estamos em mudança. Vivemos tempos de interrogações dentro e fora da Igreja. Acontece que um certo cansaço provocado pela negligência da vida espiritual e o desencanto diante da exposição mediática dos pecados dos cristãos, mormente se têm responsabilidades ministeriais, façam vacilar alguns que se resignam a uma rotina ou se afastam progressivamente. Outros, na agitação do mundo, andam à procura de respostas às suas aspirações e nem sempre encontram testemunhas credíveis de Jesus Cristo. Vacilam à procura de métodos ou refugiam-se em soluções imediatas e ideais construídos por uma certa cultura do bem-estar e da satisfação imediata.

Durante o período no qual se desenvolveu na diocese a consulta sinodal verificou-se que a visão dos participantes nos diferentes encontros realizados é, maioritariamente, a de uma Igreja centrada na sua estrutura clerical, na celebração dos sacramentos e na religiosidade popular. A idade predominante dos participantes foi de 80% na faixa etária compreendida entre os 50 e os70 anos. Os jovens não ultrapassaram os 10% de participação e o mesmo aconteceu com os adultos nas idades compreendidas entre os 30 e os 50 anos. Além disso, atendendo ao número de documentos escritos recebidos das Paróquias da Diocese, ficámos com a perceção de que o debate sobre os temas sinodais foi bastante limitado. Nos encontros arciprestais e diocesanos, os Párocos procuraram em geral promover uma participação significativa dos leigos com responsabilidades na respetiva Paróquia. Notámos uma preocupação comum dos que estão mais empenhados na vida das Paróquias no sentido de encontrar caminhos de evangelização que respondam à situação atual. Apesar das dificuldades, sobretudo do envelhecimento dos que praticam a fé, a ambiência vivida nestes encontros não foi de resignação.

Todos os que tomaram parte nesta consulta sinodal manifestaram o desejo de caminhar juntos melhorando o acolhimento nas Paróquias, a escuta e a procura conjunta de orientações na missão. Consideraram importante dar continuidade a esta caminhada sinodal nas comunidades cristãs, cientes de que a fidelidade a Jesus Cristo e a abertura ao mundo caminham juntas.

Depois de ponderados em espírito de fé e de oração, julgamos propor os seguintes pontos de consideração conjunta:

- Ouvir as comunidades. É de grande proveito realizar assembleias paroquiais e instituir os conselhos pastorais e económicos nas Paróquias fazendo-os realmente funcionar. Esta é uma educação progressiva para que os leigos se sintam corresponsáveis na missão, implicados nas atividades da paróquia, mas sempre com rotatividade para que ninguém se acomode. Os Párocos são também chamados a reservar mais tempo e disponibilidade para conhecer os paroquianos, receber os que procuram um acompanhamento pessoal, estabelecer laços de amizade com eles, fazer caminho com os que são postos à margem por causa de diferentes escolhas de vida. Com frequência, as muitas ocupações dos sacerdotes deixam pouco tempo ao encontro efetivo.

- Cuidar das celebrações litúrgicas, de forma muito particular da Eucaristia e comprometer mais os leigos na preparação dos sacramentos e sacramentais, proporcionando a formação na fé de outras famílias. Neste campo, a promoção dos ministérios laicais precisa de ser dinamizada. Não convém multiplicar desnecessariamente as celebrações da Eucaristia, mas ajustá-las à mobilidade cada vez maior dos que nela participam, preparando-a com o devido cuidado de modo a conseguir uma efetiva participação de todos. Para além disto, importa refletir sobre a divisão das Paróquias na Diocese.

- Estar atento à formação nos seminários e à formação permanente do clero a nível espiritual e humano, ao sentido da fidelidade ao ministério. O Pároco não é um gestor nem um funcionário como, por vezes, um certo comportamento o dá a entender. Não é dono da Paróquia. Deve dar conta do que faz e explicá-lo aos paroquianos afastando-se de tudo quanto seja ambição e tom de superioridade. O ambão não é uma tribuna nem a homilia um ajuste de contas. Os cristãos querem que a Palavra de Deus lhes seja dada em alimento.

- Apostar numa formação que envolva as famílias na catequese e na prática da fé. No geral, as crianças e jovens entendem a catequese como uma instrução teórica em vista da celebração de sacramentos ou então um conjunto de ideais generosos sobre os valores, mas não um encontro comprometido com Jesus Cristo. Os grupos de jovens deviam ser mais incentivados, pois permitem uma continuidade depois do Crisma. O mesmo pode dizer-se em relação aos grupos que rezam com a Palavra de Deus.

- Comunicar com abertura de espírito, sem medo da verdade. Há ainda um esforço a fazer para melhorar a comunicação entre o clero, o que supõe o empenhamento de cada um. Mais do que um método, é um espírito que se cria, na medida em que as ideias pessoais são confrontadas e dialogadas antes de incorporarem qualquer decisão. A comunicação há-de ser melhorada entre os diversos movimentos, quer a nível paroquial, quer a nível diocesano assim como com os leigos que não estão inseridos nos movimentos e associações. Há que estar atento à cultura mediática em que vivemos e para a qual é importante mais discernimento e formação. Ela é um meio importante de anúncio do Evangelho.

- Evangelizar a religiosidade popular, discernir e purificar as tradições, de modo a fazer dela um meio importante para incorporar o Evangelho na vida do Povo de Deus

Comissão para a Consulta Sinodal na Diocese do Funchal

Funchal, 16 de junho de 2022