Do choro ao anúncio

14-04-2020

Do choro ao anúncio
Era uma mulher que queria ungir o corpo morto de Jesus, aquela Maria que foi ao sepulcro no primeiro dia da semana. Tratava-se de dar ao Mestre um mínimo de dignidade na sua sepultura, já que a morte na cruz (morte cheia de vergonha e de dor, morte de revoltosos e de escravos) e a sepultura precipitada não tinham deixado que se cumprissem os ritos fúnebres.
Era uma mulher aflita, aquela Maria que, ao chegar ao sepulcro, viu a pedra retirada e o túmulo vazio. "Roubaram o corpo". "Nem o deixam descansar na morte" - terá, eventualmente, pensado. E chorou.
Era uma mulher que não entendia o que se passava, sem saber como reagir, aquela Maria que escutou o anjo perguntar: "porque choras?" Respondeu: "Levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram". E, de novo: "porque choras?" Só foi capaz de responder: "Se o roubaste, diz-me onde o puseste". Nem conseguia ver para além daquilo que a tinha conduzido ao sepulcro.
Era uma mulher cheia de alegria quando escutou "Maria", os seus olhos puderam contemplar o Ressuscitado e o seu coração pode entender, finalmente, o acontecido.
Era uma mulher ainda centrada em si, aquela Maria que devia passar por uma outra purificação: "Não me agarres, vou subir para o Pai". Porque era ainda o "meu" Senhor - o Senhor que ela tinha imaginado, pensado, amado.
Era uma mulher cheia de certeza e de vigor, aquela Maria que disse aos discípulos desanimados: "Vi o Senhor", e lhes contou o que Jesus tinha dito.
Era uma mulher tão semelhante à Igreja de hoje e de todos os tempos, aquela Maria!