Homilia no 2º Domingo da Páscoa

19-04-2020

II DOMINGO DA PÁSCOA (A)

19 DE ABRIL DE 2020


HOMILIA

1. "Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, na sua grande misericórdia, nos fez renascer, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe, nem se mancha, nem desaparece" (1Ped 1,3-4). É deste modo que S. Pedro inicia a sua primeira carta, como acabámos de escutar na IIª leitura.

Aos cristãos que viviam no que é hoje território do norte da Turquia, o Apóstolo Pedro convidava a maravilharem-se e a agradecerem a Deus o dom de terem escutado o Evangelho e recebido o Baptismo.

O Apóstolo fala do Baptismo como de um "renascimento": antes de o receberem, os que agora são cristãos viviam como mortos, longe de Deus, sem acesso à vida verdadeira. Agora, depois de receberem o Baptismo, estão renascidos - ressuscitados pela ressurreição de Jesus - e, por isso, com esperança viva (quer dizer: com um outro olhar para a vida e para o mundo), certos de que são herdeiros da vida eterna, onde não há corrupção mas vida verdadeira.

Tudo isto não é conquista das suas qualidades ou da sua simples vontade, mas é dom gratuito, fruto do amor fiel, constante e pessoal de Deus para com cada um, quer dizer: fruto da misericórdia de Deus.

2. Somos, também nós, convidados a maravilhar-nos com este acontecimento que marcou e que marca para sempre a nossa vida: somos baptizados! Membros do Corpo de Cristo, membros uns dos outros! Como baptizados, como membros de Cristo pelo Baptismo, somos convidados a viver como ressuscitados - somos convidados a viver em Cristo ressuscitado.

O que significa isso? Significa, em primeiro lugar, viver a partir de Deus; viver a partir dos critérios de Jesus e não dos nossos. Na oração, aprendemos a viver a partir de Deus: a olhar, a escutar e a agir; a pensar e a sentir a partir de Deus e com Ele.

Mas viver com Cristo ressuscitado significa, também, colocar Deus e o seu amor acima de tudo o mais (e, por isso, Santo Agostinho podia dizer: "Ama, o faz o que quiseres" - se amares Deus e os irmãos, o que estiveres para fazer será animado, orientado pelo amor de Deus e dos irmãos, e para o amor); significa colocar o próximo e o seu bem acima de cada um de nós.

Muitas vezes nos questionamos: como devo escolher? Nesta situação concreta, devo escolher a partir daquilo que penso; devo escolher segundo aquilo que é a opinião da maioria, ou escolho antes a partir do que me convém? O cristão escolhe a partir de Deus, a partir daquilo que Ele nos propõe como caminho de vida, e de vida eterna, mesmo que não seja do agrado da maioria, mesmo que não seja o que mais me agrada.

Viver em Cristo ressuscitado significa aceitar e contar com Deus ao nosso lado, em cada momento da nossa vida. Significa aceitar e contar com a sua força e com a coragem que dele recebemos para O mostrar a quem ainda não O conhece ou não é capaz de contar com Ele.

Significa deixar que Ele e a sua presença nos transformem, nos convertam, nos ajudem a deixar as atitudes e os modos de pensar do que ainda é homem velho, que constantemente cai no pecado, e vive inclinado para o pecado, para o egoísmo - para nos irmos transformando, em cada dia que passa, em cada momento, à imagem de Jesus Cristo (trabalho duro e paciente!), de modo a que quem nos encontrar possa também encontrar Jesus. Significa uma disponibilidade constante para o serviço dos irmãos, para os ajudar nas suas necessidades.

Viver em Cristo ressuscitado significa ainda aceitar ser alguém que contribui para a transformação do mundo. Não uma transformação à nossa imagem e semelhança, mas à semelhança de Deus, com os critérios de Deus. Ninguém pode, sozinho, transformar o mundo inteiro, de um dia para o outro. Mas cada um de nós pode e deve transformar a realidade que se encontra à sua volta. Pode e deve ajudar a melhorar a sua terra, a sua família, os seus amigos. Podemos e devemos todos fazer com que Jesus Cristo esteja mais presente à nossa volta.

3. O Baptismo é uma graça que recebemos de Deus. Ninguém se baptiza a si mesmo. Não é uma conquista nossa. É um dom que nos é oferecido - e, por isso, é graça! Deus presente em nós, na nossa vida; a dar-nos força e a converter-nos, a transformar-nos: ninguém o pode conquistar, ninguém o merece. Está infinitamente fora do nosso alcance. Mas é-nos dado por Ele, apesar das nossas fraquezas, do nosso pecado. É-nos dado pela sua misericórdia! Como resposta, só podemos agradecer e procurar viver, em cada momento, em fidelidade ao dom recebido.

Mas o Baptismo que recebemos, sendo dom, é também uma missão: "Como o Pai me enviou, também vos envio a vós - diz o Ressuscitado aos seus, logo na primeira vez que os encontrou, naquele primeiro Domingo - Recebei o Espírito Santo".

Que bom é sermos baptizados! Que bom é viver com Cristo cada momento da nossa vida! Que bom é participar da vida de Jesus ressuscitado! Mas é ainda melhor testemunhar Jesus ressuscitado! Ajudar outros, partilhar com eles essa vida nova que ressurgiu do sepulcro! Transformar quanto se encontra à nossa volta: a vida dos irmãos, da nossa família, da nossa terra, da nossa região, do nosso país!

É verdadeiramente grande a misericórdia do Senhor, que nos dá a possibilidade de, renascidos no Baptismo, darmos testemunho dessa vida nova, quer dizer: da sua ressurreição!