Se fôssemos nós...

31-03-2020

Se fôssemos nós...
"Aquele povo de Israel não tem emenda", pensamos ao ler a Iª leitura de hoje. Depois de ter visto no Egipto o poder de Deus; depois de passado o Mar Vermelho e já a caminho da Terra Prometida; depois de ser alimentado com o Maná; depois de tantos outros milagres e sinais; com Moisés à sua frente - e aquele povo continua a murmurar contra Deus e contra Moisés: "Porque nos fizeste sair do Egipto, para morrermos neste deserto? Aqui não há pão nem água e já nos causa fastio este alimento miserável" (Num 21,5).
Mas creio que todos percebemos como hoje somos nós a clamar, exactamente como o povo de Israel no deserto. Hoje, com todos estes mortos; hoje, com a obrigação de permanecer em casa, entre quatro paredes; hoje, embrenhados neste deserto que não se sabe quando acabará, esquecemos todos os sinais, todos os milagres que Deus fez na nossa vida - aqueles momentos em que O percebemos presente, actuante. Corremos até o risco de esquecer o "Pão do Céu" que é alimento para a vida eterna (ou será que já nos causava "fastio"?)... E Deus que não se decide a intervir, a mostrar - agora sim, é que era, de um dia para o outro, o mundo acordar sem vírus: todos se haveriam de converter! E Deus que parece ficar silencioso, parado, como se nada fizesse...
E aquela cruz, erguida, "a chorar", realizando a figura que fora antecipada pela serpente do deserto erguida por Moisés, para ser vista por todos, contemplada: "Quando levantardes o Filho do Homem, então sabereis que Eu Sou" (Jo 8,28). Afinal, não há nada mais senão a cruz e o Crucificado, elevado bem acima de todos, para que todos O possam contemplar e receber a cura, a vida!