3º Domingo da Quaresma - Dia da Cáritas

08-03-2021

III DOMINGO DA QUARESMA (B)

7 de março de 2021

Dia Cáritas


1. Na segunda leitura (1Cor 1,22-25), que acabámos de escutar, o Apóstolo S. Paulo apresentava aos cristãos de Corinto a identidade do cristão. Quem somos nós, os cristãos? Que procuramos nós? Que é que nos move?

O mundo grego (onde viviam os cristãos de Corinto) girava todo ele à volta da procura da sabedoria. Por seu lado, o mundo dos judeus (onde Paulo tinha passado grande parte da sua vida) estava organizado à volta dos milagres de Deus na história: procurava manifestações da presença divina. Mas qual é o centro, o motor deste mundo novo, este novo modo de viver que Paulo proclamava como surgido da ressurreição de Jesus? Que procuramos nós, os cristãos, ao longo da nossa vida?

A resposta do Apóstolo é clara: a nossa vida não está organizada nem à volta da sabedoria, nem à volta dos milagres. A vida do cristão está toda ela centrada na cruz de Jesus. Toda a nossa existência, todo o nosso caminho de fé consiste nisto: viver do amor de Deus que Cristo nos mostrou na sua cruz.

Muitos dirão (hoje, como naquele tempo): "ignorância, loucura"! Como é que de um homem morto pode surgir alguma coisa? Outros dirão: "escândalo"! Como é que um condenado à morte por blasfémia, um maldito (como eram olhados aqueles que morriam na cruz), como é que alguém que sofreu a morte dos malditos pode mostrar Deus?

No entanto, S. Paulo afirma-o com toda a clareza e sem medo: é precisamente porque é obra de Deus, que a cruz de Jesus é central na nossa vida. É porque, no madeiro da cruz, Deus viveu a nossa morte e o nosso sofrimento, que o Crucificado é o motor da nossa existência.

Deus rejeitado pelos homens. A sabedoria dos homens (aquela que eles procuram e que julgam possuir) não foi - nem é! - capaz de reconhecer Deus na cruz de Jesus. Por isso, pensam que são loucos aqueles que, como Paulo, proclamam Cristo crucificado e vivem dele. Mas a loucura de Deus é bem mais sábia que a sabedoria dos homens!

E àqueles que olham para a cruz e vêem nela uma maldição, quer dizer: uma fraqueza, uma derrota de Deus, o Apóstolo não hesita em responder que a fraqueza de Deus é mais forte que a força dos homens.

Cristo crucificado: poder e sabedoria de Deus. Que o mesmo é dizer: amor de Deus mostrado e demonstrado, provado. Amor de Deus por todos os seres humanos. Amor que teve a ousadia de sofrer até ao fim; de experimentar o sofrimento mais baixo a que algum ser humano poderia alguma vez estar sujeito.

Não apenas Amor que faz seu o padecer de toda a humanidade, marcada pelos seus limites, pelo pecado e pelo mal que ele sempre traz consigo. Mas Amor que é (sobretudo) padecer com cada ser humano, de todos os tempos. De tal forma que cada um de nós pode, hoje, olhar para o Crucificado e descobrir nele os seus pecados, bem concretos, o seu sofrimento, a sua vida. Amor de tal forma grande e intenso, sólido e fiel - Amor de Deus! - que salva, que transforma a morte em vida. Amor que transforma a tua morte em vida, em vida de Deus contigo e em ti!

Podemos, por isso, perceber Santo Ambrósio, quando afirma: "Tudo temos em Cristo. Cada alma pode vir a Ele, seja doente com pecados corporais, seja prisioneira de algum dos maiores vícios deste mundo; mesmo que o seu caminho seja ainda imperfeito, (desde que tenha o propósito de progredir); ou que, como muitos, viva já com a virtude perfeita: tudo está no poder do Senhor, e Cristo é tudo para nós! Se queres curar uma ferida, Ele é o médico; se estás com febre e morto de sede, Ele é a fonte; se és oprimido pela iniquidade, Ele é a justiça; se tens necessidade de ajuda, Ele é a força; se temes a morte, Ele é a vida; se desejas o Céu, Ele é o caminho; se te encontras nas trevas, Ele é a luz; se procuras de comer, Ele é o alimento. Saboreai e vede como o Senhor é bom: feliz o homem que nele pôs a sua esperança!" (De virginitate, 16,99).

2. Olhando para a cruz de Jesus, percebemos como o amor é algo bem concreto: é o amor que Deus tem por ti, por mim, por cada ser humano e por todos. E percebemos também a profundidade do lema que nos foi proposto para a Semana Cáritas que hoje termina: "É o amor que transforma!".

Podemos mesmo dizer: só o amor transforma verdadeiramente! Porque só o amor é princípio de vida nova. Porque só o amor - o amor de Deus em nós, que o mesmo é dizer: a caridade - só o amor tem a capacidade de renovar, de transformar a morte em vida, de transformar tudo o que em nós é sinal de morte, em vida verdadeira.

Neste dia Cáritas, queremos dar graças a Deus pelo caminho que esta instituição percorreu ao longo de todos estes anos. Queremos dar graças a Deus por quantos nela colaboraram e trabalharam, e pela ajuda que a Cáritas constituiu na vida de tantos, espalhando o amor que transforma, por dentro, os indivíduos, as famílias, a inteira sociedade.

Neste Domingo da Quaresma, deixemos que, diante de nós, permaneça a cruz de Jesus Cristo. Acolhamos dela "o Amor que transforma"! Vivamos envolvidos e movidos por este amor.

+ Nuno, Bispo do Funchal